Escritórios do Hamas passavam despercebidos na periferia sul de Beirute
Os moradores dos animados subúrbios do sul de Beirute, onde o número dois do Hamas foi morto na noite de terça-feira (2) em um ataque atribuído a Israel, não sabiam que o edifício atacado albergava os escritórios do movimento islamista palestino.
Dois andares do pequeno e modesto edifício foram completamente destruídos por três ataques de drones, que mataram Saleh al-Arouri e seis outros líderes do Hamas.
Nesse reduto do Hezbollah libanês, soldados do Exército bloquearam a área, na manhã de hoje, repleta de ativistas vestidos de civil e de cor preta, do poderoso movimento pró-Irã.
"Três ataques com drones israelenses tiveram o prédio como alvo", disse um responsável do Hezbollah presente no local, que pediu anonimato, e confirmou que sete pessoas morreram.
Em um terreno baldio em frente ao edifício, onde um carro está carbonizado, e outros, bastante danificados, os socorristas do Hezbollah recolhem escombros e procuram restos humanos.
"Ouvi três explosões. Cheguei a pensar que fosse um trovão", disse Ahmad, um homem de 40 anos que trabalha em uma padaria próxima e que preferiu não revelar o sobrenome.
"Ninguém sabia que havia um escritório do Hamas aqui", acrescentou.
O edifício atacado, onde acontecia uma reunião de grupos palestinos, segundo a agência oficial libanesa Ani, está rodeado de lojas, edifícios residenciais e clínicas.
Saleh al-Aruri era um dos principais estrategistas militares do Hamas, o movimento islamista que governa a Faixa de Gaza.
Israel prometeu liquidar o Hamas após a ofensiva de 7 de outubro, que deixou 1.140 mortos em território israelense.
A rua Hadi Nasrallah, em homenagem ao filho do líder do Hezbollah morto durante os combates com o Exército israelense em 1997, está repleta de vidros quebrados que os comerciantes estão removendo.
- "Guerra de aniquilação" -
"Estava no dentista, a poucos metros de distância", afirma Mohammad Burji, de 46 anos, que denuncia "esse assassinato no meio de uma área residencial".
"Os subúrbios do sul são o pulso da resistência. Já tinham sido alvo de uma guerra de aniquilação, como em Gaza", diz ele, referindo-se aos violentos bombardeios israelenses contra esses subúrbios de Beirute, em particular durante a guerra de 2006 entre o Hezbollah e Israel.
O capitão Ali Farran, chefe da polícia dos subúrbios ao sul de Beirute, também recorda a guerra de 2006: "vivemos a experiência de Israel em 2006, quando destruiu os subúrbios (...) e esperamos o pior. Pudemos ver nos subúrbios do Líbano, o que vemos em Gaza".
As principais instituições do Hezbollah têm sua sede nos subúrbios ao sul de Beirute, que tem, segundo o funcionário, 800.000 habitantes.
Várias figuras do Hamas que foram para o exílio estão estabelecidas no Líbano, sob a proteção do Hezbollah.
Um dos principais líderes do movimento, Osama Hamdane, dá entrevistas coletivas quase diariamente em uma sala nos subúrbios ao sul da capital libanesa.
O Hezbollah também acolheu em seu reduto opositores do Bahrein e rebeldes do Iêmen.
O assassinato do líder do Hamas é uma "grave agressão contra o Líbano" que "não ficará impune", alertou.
Seu líder, Hassan Nasrallah, fará um discurso hoje à noite.
Desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, em 7 de outubro, o Hezbollah lança ataques diários do sul do Líbano contra Israel, que responde bombardeando cidades na fronteira. Essas agressões transfronteiriças deixaram mais de 165 mortos, incluindo mais de 120 combatentes do Hezbollah no lado libanês.
O ataque de terça-feira à tarde ao Hamas foi o primeiro realizado perto da capital libanesa desde o início da guerra. O Exército israelense não confirmou a realização do ataque, mas disse, nesta quarta, que se prepara para "qualquer cenário".
E.Carlier--JdB