Israel bombardeia sul de Gaza e ONU pede entrada de mais ajuda
Israel bombardeou novamente nesta sexta-feira (29) o sul e o centro da Faixa de Gaza, onde a agência da ONU para os refugiados palestinos (Unrwa) denunciou as dificuldades que enfrenta para encaminhar ajuda humanitária à população.
Após mais de dois meses e meio de guerra entre Israel e o Hamas, uma delegação do movimento islamista viajou para o Cairo para discutir uma proposta egípcia que busca interromper a guerra no território palestino.
Os bombardeios se concentram no centro e sul da Faixa, onde, segundo o exército israelense, as tropas "estão ampliando a operação em Khan Yunis".
Imagens da AFPTV mostravam fumaça sobre Rafah, na fronteira sul com o Egito, após novos ataques nas primeiras horas desta sexta-feira.
Dezenas de milhares de deslocados chegaram a esta cidade nos últimos dias, segundo a ONU, após a intensificação dos combates ao redor de Khan Yunis e Deir al Balah.
Em Deir al Balah, no centro do território, os palestinos foram ao hospital Al Aqsa para identificar os corpos de seus familiares.
Do lado de fora, Suhair Nasser chorava enquanto segurava os corpos de seus gêmeos, falecidos em um ataque israelense na quinta-feira. "A casa foi bombardeada e os escombros caíram sobre as crianças", contou.
A guerra em Gaza foi desencadeada pelo sangrento ataque do Hamas em 7 de outubro em Israel, que deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria civis, segundo contagem da AFP com base em números israelenses.
Cerca de 250 reféns foram também capturados no ataque e cerca da metade permanece em cativeiro.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma intensa ofensiva aérea e terrestre que deixou pelo menos 21.507 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, de acordo com o último balanço do ministério da Saúde de Gaza, governada pelo Hamas desde 2007.
Por sua vez, o exército israelense indicou que 168 de seus soldados morreram na guerra contra esse movimento islamista, classificado como grupo "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
- Uma população "extenuada" -
Mais de 80% dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados, segundo a ONU, e vivem amontoados em abrigos ou tendas improvisadas ao redor de Rafah.
A população, "traumatizada" e "extenuada", se aglomera em "uma parcela cada vez mais reduzida" no sul do território, denunciou o responsável pela ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths, na rede social X.
Desde que Israel impôs um cerco total a Gaza em 9 de outubro, os habitantes sofrem com a falta de comida, água, combustível e medicamentos, aliviada esporadicamente por caravanas humanitárias que entram principalmente pelo Egito.
O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou nesta sexta que estava "muito preocupado" com a crescente ameaça de doenças infecciosas em Gaza.
A Unrwa, por sua vez, afirmou que o exército israelense atirou em um de seus comboios de ajuda humanitária na quinta-feira, sem causar vítimas. O exército declarou que estava "verificando" as informações.
Griffiths denunciou nesta sexta "uma situação impossível para a população de Gaza e para aqueles que tentam ajudá-los". "Acham que é fácil levar ajuda a Gaza? Pensem novamente", escreveu no X.
Um vendedor do mercado de Rafah, Muntaser al Shaer, de 30 anos, comemorou nesta sexta-feira que, pela "primeira vez" desde o início da guerra, "ovos e alguns tipos de frutas vindos do Egito" haviam entrado.
- "Retirada militar completa" -
O plano egípcio, de três etapas, prevê tréguas prorrogáveis, libertações escalonadas de reféns e prisioneiros palestinos e, por fim, o cessar das hostilidades.
Um funcionário do Hamas disse à AFP sob condição de anonimato que a delegação entregará "a resposta das facções palestinas", que inclui "várias observações" sobre a proposta egípcia, apresentada ao movimento islamista e à Jihad Islâmica, outro grupo armado de Gaza.
O Hamas buscará também "garantias para uma retirada militar israelense completa" de Gaza, indicou o funcionário.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), sediada em Haia, anunciou nesta sexta que a África do Sul acusou Israel perante a instituição por "atos de genocídio contra o povo palestino em Gaza". As acusações foram negadas com "desgosto" por Israel.
A guerra em Gaza também intensificou as tensões em outras áreas.
Na Cisjordânia ocupada, dois palestinos foram mortos nesta sexta por tiros israelenses, um por ser suspeito de realizar um ataque com um carro e o outro por tentar lançar uma bomba contra um posto militar, de acordo com o exército israelense.
No norte de Israel, as sirenes de alerta soaram várias vezes, segundo o exército, que afirmou ter identificado disparos provenientes do Líbano.
O.Leclercq--JdB