Bombardeios prosseguem em Gaza, que aguarda ajuda humanitária após resolução da ONU
Os bombardeios israelenses e os combates prosseguiam neste sábado (23) na Faixa de Gaza, onde a população palestina aguarda a chega de mais ajuda humanitária, após a aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Após cinco dias de negociações árduas para evitar o veto dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança aprovou na sexta-feira um texto que exige o envio "imediato" e "em larga escala" de ajuda humanitária ao território palestino.
O documento evita pedir um "cessar-fogo", uma condição inaceitável para Israel e Estados Unidos, grande aliado do país em guerra, mas pede a criação das "condições para um cessar duradouro das hostilidades".
A aplicação do texto, no entanto, gera muitas dúvidas: a ajuda humanitária que entra no território palestino a conta-gotas a partir do Egito e da passagem de Kerem Shalom está muito longe da dimensão das necessidades da população, que está à beira da fome, segundo a ONU.
Antes da votação da resolução, Israel, que revista os caminhões que entram em Gaza, criticou a maneira como as agências da ONU distribuem ajuda.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Eli Cohen, insistiu no tema na sexta-feira.
"A decisão do Conselho de Segurança destaca a necessidade de vigiar para que as Nações Unidas sejam mais eficazes na transferência de ajuda humanitária e de garantir que a ajuda chegue a seu destino e não passe às mãos dos terroristas do Hamas", escreveu na rede social X.
- "Um passo no caminho correto" -
O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansur, afirmou que a resolução é "um passo no caminho correto", mas que deve ser acompanhado por um "cessar-fogo imediato".
O Hamas, que governa Gaza e está classificado como organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, considerou a resolução "insuficiente" e afirmou que "não responde à situação catastrófica criada pela máquina de guerra sionista".
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas após o ataque sem precedentes do grupo em 7 de outubro, quando quase 1.140 pessoas foram assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nas informações divulgadas pelas autoridades israelenses.
Os milicianos também sequestraram quase 250 pessoas e 129 permanecem retidas em Gaza, segundo Israel.
A resposta militar israelense, com bombardeios aéreos e uma ofensiva terrestre, matou mais de 20.000 pessoas, a maioria mulheres e menores de idade, e deixou mais de 50.000 feridos, segundo o Hamas, que governa Gaza desde 2007.
Segundo o Exército, 139 militares israelenses morreram nas operações terrestres, iniciadas em 27 de outubro.
O Exército divulgou imagens neste sábado que mostram soldados avançando entre ruínas e atirando em Issa, sul da cidade de Gaza, em meio a disparos de armas automáticas.
"Várias infraestruturas terroristas foram localizadas, incluindo edifícios utilizados como instalações militares pelo Hamas, e foram destruídas", afirma uma nota.
O Ministério da Saúde do Hamas relatou um bombardeio israelense contra o campo de refugiados de Nuseirat e informou que o ataque deixou pelo menos 18 mortos.
O Exército israelense "prossegue com os disparos de artilharia pesada" na cidade de Gaza e em Jabaliya, ao norte, assim como em Deir al Balah, no centro, acrescentou a pasta. Os bombardeios continuam perto de Rafah e em Khan Yunis, no sul.
"Minha mensagem para o mundo é que olhem para nós, que nos vejam, que vejam que estamos morrendo. Por que não prestam atenção?", lamenta Wala Al Medini, uma deslocada que foi obrigada a abandonar o campo de Bureij (centro), após um aviso de evacuação do Exército israelense.
- Risco de fome -
O conflito destruiu grande parte de Gaza, um território estreito de 362 quilômetros quadrados e 2,4 milhões de habitantes.
Os bombardeios israelenses forçaram 1,9 milhão de pessoas a abandonar suas casas, o equivalente a 85% da população do território, segundo a ONU.
Após mais de dois meses de guerra, apenas nove dos 36 hospitais do território estão em funcionamento, mas de forma parcial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar da nova resolução do Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, criticou os "grandes obstáculos" para distribuir a ajuda devido à "forma como que Israel está efetuando esta ofensiva".
Guterres recordou que 136 funcionários da ONU morreram em 75 dias. Apenas um cessar-fogo humanitário permitirá "começar a responder às necessidades desesperadas da população de Gaza e acabar com seu pesadelo", acrescentou.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que "a fome é iminente em Gaza".
No campo diplomático, Egito e Catar prosseguem com os esforços para conseguir uma nova trégua, depois do cessar-fogo de uma semana do fim de novembro que permitiu a libertação de 105 reféns e 240 palestinos detidos em Israel.
Mas os dois lados mantêm as exigências: o Hamas quer o fim dos combates antes de qualquer negociação sobre os reféns; Israel descarta um cessar-fogo antes da "eliminação" do movimento islamista palestino.
A.Martin--JdB