Venezuela troca com EUA 'presos políticos' por Alex Saab, 'embaixador' de Maduro
Os Estados Unidos libertaram, nesta quarta-feira (20), Alex Saab, um empresário acusado de ser testa de ferro do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em troca da liberdade de 24 presos venezuelanos e americanos no país caribenho.
Saab chegou à Venezuela logo após receber um indulto do presidente Joe Biden, em uma troca por 10 americanos detidos na Venezuela.
Ao mesmo tempo, outros 14 "presos políticos" venezuelanos foram libertos, confirmou a AFP.
"Reunir americanos detidos injustamente com seus entes queridos tem sido uma prioridade para o meu governo desde o primeiro dia", expressou Biden em um comunicado no qual não menciona Saab, que estava sendo julgado na Flórida por lavagem de dinheiro.
O perdão foi confirmado por funcionários do alto escalão em Washington.
O governo de Maduro comemorou "com alegria" a libertação do empresário colombiano, a quem o presidente venezuelano concedeu a nacionalidade venezuelana e um título de embaixador.
"O povo o recebe com orgulho depois de ter sofrido três anos e meio de detenção ilegal sob tratamento cruel, desumano e degradante", indicou um comunicado.
Vestido com uma camisa branca e calça preta, Saab abraçou sua esposa, Camila Fabri, e seus filhos ao descer do avião no aeroporto de Maiquetía, que serve a Caracas.
O Catar intermediou esse acordo, de acordo com um funcionário em Doha.
- "Ainda há companheiros lá" -
Entre os libertos estão os americanos Luke Alexander Denman e Airan Berry, que cumpriam uma sentença de 20 anos por uma incursão armada fracassada na Venezuela em 2020.
Também está Savoi Jadon Wright, acusado de fazer parte de uma tentativa de boicote ao referendo realizado pelo país sul-americano em 3 de dezembro, em meio a uma disputa territorial centenária com a vizinha Guiana. No referendo, aprovou-se a criação de uma província venezuelana no Essequibo, região rica em petróleo.
"Estamos felizes pelas famílias de Luke, de Airan, e dos outros americanos [...] No entanto, pedimos a libertação dos 290 presos políticos que ainda permanecem na Venezuela", disse na rede social X Ana Leonor Acosta, integrante da Coalizão de Direitos Humanos e Democracia, que cuidava de muitos desses casos.
Como parte da troca, Leonard Glenn Francis, o 'Fat Leonard' - empresário malaio que se declarou culpado no pior escândalo de corrupção da história da Marinha dos Estados Unidos - foi "preso e devolvido" ao país, informou Washington.
Entre os venezuelanos soltos estão seis sindicalistas detidos em julho de 2022 e condenados a 16 anos de prisão em um julgamento por "conspiração" e "associação criminosa".
"Sentimentos mistos porque ainda há companheiros lá", disse Alcides Bracho, um desses líderes sindicais, ao portal de notícias Efecto Cocuyo.
Também foi solto Roberto Abdul, membro da ONG Súmate, que organizou as primárias da oposição, acusado de "traição à pátria".
- Saab, moeda de troca -
Saab foi detido em Cabo Verde em junho de 2020 e extraditado para os Estados Unidos em outubro de 2021.
A procuradoria americana o acusava, junto com seu sócio Álvaro Pulido, detido na Venezuela em outra trama de corrupção relacionada à estatal PDVSA, de transferir 350 milhões de dólares (1,71 bilhão de reais, na cotação atual) obtidos ilegalmente na Venezuela para lavagem de dinheiro nos EUA.
A prisão foi classificada como um "sequestro" pelo governo venezuelano, que garante que o empresário exercia funções de enviado especial de Caracas ao ser detido e que sua imunidade diplomática foi violada.
Saab se tornou uma moeda de troca para Maduro, que exigia sua libertação para desbloquear suas negociações com a oposição com mediação da Noruega.
A mesa foi suspensa em 2021 pela extradição de Saab e retomada recentemente sob pressões de Washington, que agora mantém um canal direto de comunicação com Maduro, apesar do rompimento das relações diplomáticas há mais de quatro anos.
Em outubro, governo e oposição concordaram em realizar eleições presidenciais no segundo semestre de 2024, com observação internacional, e criar um mecanismo para suspender as inabilitações políticas contra líderes opositores. Em resposta, os Estados Unidos levantaram temporariamente sanções ao petróleo, gás e ouro venezuelanos.
H.Dierckx--JdB