Novos bombardeios israelenses em Gaza, apesar de pressão internacional por trégua
Novos bombardeios atingiram a Faixa de Gaza nesta terça-feira (19), apesar dos incessantes pedidos para que mortes de civis sejam evitadas no devastado território palestino e os riscos de que o conflito se estenda para o Mar Vermelho.
O Conselho de Segurança da ONU deve se pronunciar nesta terça-feira sobre um novo texto que pede o "cessar urgente e duradouro das hostilidades" no território sitiado, após diversos vetos dos Estados Unidos.
A guerra em Gaza teve início com o violento ataque do Hamas em 7 de outubro, quando o movimento islamista assassinou 1.140 pessoas em Israel, a maioria civis, e sequestrou quase 250, segundo as autoridades israelenses.
O Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território palestino, afirma que 19.600 pessoas, a maioria mulheres e menores de idade, morreram na ofensiva de Israel em resposta ao ataque.
A pasta anunciou que ao menos 20 pessoas morreram nesta terça-feira em um bombardeio israelense na cidade de Rafah, perto da fronteira de Gaza com o Egito.
Também houve bombardeios em Khan Yunis, no centro da Faixa, segundo jornalistas da AFP.
A comunidade internacional teme que o conflito se estenda ao Mar Vermelho, onde rebeldes huthis do Iêmen, aliados do Hamas, lançaram nas últimas semanas ataques com drones e mísseis contra navios.
Estas agressões, realizadas em represália à guerra em Gaza, representam uma "ameaça" para o comércio internacional, advertiu o secretário americano de Defesa, Lloyd Austin.
O Mar Vermelho liga o Mediterrâneo ao Oceano Índico e, portanto, a Europa à Ásia. Uma grande parte do comércio mundial transita pelo estreito de Bab Al Mandab, onde os huthis multiplicaram seus ataques.
Os huthis, que controlam a capital do Iêmen e amplas partes do território, afirmaram nesta terça-feira que continuarão com seus ataques, apesar de uma coalizão internacional anunciada na véspera por Washington, que buscará segurança para esta rota.
- "Pesadelos humanitários" -
Além dos Estados Unidos, a aliança é integrada por França, Espanha, Reino Unido, Bahrein, Canadá, Itália, Países Baixos, Noruega e ilhas Seychelles.
Várias das empresas marítimas mais importantes do mundo suspenderam o trânsito de suas embarcações por este corredor devido às agressões.
Em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, pessoas vasculhavam os escombros de um edifício bombardeado. Dezenas de milhares de pessoas fugiram dos bombardeios no norte para esta cidade.
"Não há lugar seguro. Nenhum. Somos deslocados da Cidade de Gaza. Viemos para cá, nossas casas foram destruídas, mas em toda Gaza há bombardeios", contou à AFP Jihad Zorob.
No norte, o hospital Al Ahli, um dos últimos centros de saúde em operação na região, ficou fora de serviço após um ataque do Exército israelense, segundo seu diretor, Fadel Naim.
Ele disse à AFP que as tropas israelenses atacaram o hospital, prenderam médicos, profissionais de saúde e pacientes, além de destruírem uma parte do edifício.
Os hospitais em Gaza têm sido alvo de ataques israelenses reiterados desde o início da guerra. Israel acusa o Hamas de abrigar infraestruturas de comando no subsolo de seus centros de saúde, o que o grupo nega.
O Exército anunciou, nesta terça-feira, que encontrou explosivos em um centro médico de Shujayya, nos arredores da Cidade de Gaza, destruiu túneis do Hamas e matou altos comandos do grupo em suas recentes operações.
Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas, classificado como organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, realiza operações terrestres em Gaza desde final de outubro.
A preocupação internacional aumenta com a situação dos 2,4 milhões moradores de Gaza que enfrentam bombardeios diários, escassez de água e alimentos, além de deslocamentos em grande escala.
Gaza é o lugar "mais perigoso do mundo" para uma criança, denunciou nesta terça-feira Jamed Elder, porta-voz da Unicef, a agência das Nações Unidas para a infância.
"Me enfurece que quem tem o poder dá de ombros aos pesadelos humanitários de um milhão de crianças", lamentou, após retornar do território palestino.
- Votação no Conselho de Segurança -
Enquanto isso, continuam os esforço para alcançar uma nova trégua.
O ministro britânico de Relações Exteriores, David Cameron, se reunirá com seus homólogos de França e Itália para pressionar por um "cessar-fogo sustentável" no conflito, informou seu despacho.
Inicialmente prevista para segunda-feira, a votação do Conselho de Segurança foi adiada para esta terça para dar mais tempo para as negociações sobre o projeto de resolução, preparado pelos Emirados Árabes Unidos.
Em novembro, uma pausa humanitária de sete dias permitiu a libertação de 105 reféns em Gaza em troca de 240 palestinos detidos em prisões israelenses.
"Hamas está pronto para uma troca de prisioneiros, mas depois de um cessar-fogo", declarou nesta terça-feira um funcionário do movimento islamista.
Em visita a Israel nesta segunda-feira, o secretário americano de Defesa prometeu continuar armando seu aliado, ao qual Washington já forneceu bilhões de dólares em ajuda militar.
H.Raes--JdB