Presidentes da Venezuela e Guiana chegam a São Vicente e Granadinas para reunião
Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, chegaram nesta quinta-feira (14) a São Vicente e Granadinas para uma reunião em um momento de grande tensão sobre a antiga controvérsia territorial entre os dois países.
"Venho buscar pela única via que existe, a via do diálogo e da negociação, soluções efetivas", disse Maduro à imprensa depois de ser recebido pelo primeiro-ministro do país anfitrião do encontro, Ralph Gonsalves.
A reunião entre presidentes é promovida pela Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos Caribe (CELAC) e pela Comunidade do Caribe (CARICOM), que expressaram preocupação com as declarações cada vez mais duras entre os dois governantes sobre Essequibo, uma área de 160.000 quilômetros quadrados rica em petróleo e em recursos naturais que é administrada por Georgetown e reivindicada por Caracas.
Analistas acreditam que o encontro ajudará a reduzir a tensão, mas terá pouco impacto na resolução da disputa centenária.
Maduro organizou um referendo consultivo em 3 de dezembro. A votação aprovou a criação na região de uma província venezuelana e a concessão da nacionalidade a seus habitantes. A Guiana considerou a consulta uma "ameaça direta".
"Venho com um mandato do povo da Venezuela, com uma palavra de diálogo, com uma palavra de paz, mas para defender os nossos direitos", afirmou o presidente venezuelano.
A reunião terá posições antagônicas: Maduro considera o encontro como "uma grande conquista para abordar de maneira direta a controvérsia territorial", enquanto Ali negou que a disputa esteja na agenda e insistiu em sua posição de que a questão deve ser resolvida na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que não tem a jurisdição reconhecida pelo governo venezuelano.
"Acho que não vai sair nada substancial em termos de reivindicação territorial, porque a posição da Guiana é que não há conversações bilaterais sobre o tema, porque isso está na Corte Internacional de Justiça", declarou à AFP Sadio Garavini di Turno, ex-embaixador da Venezuela no país caribenho.
"Os intermediários provavelmente terão que buscar algo para que Maduro não saia do encontro sem nada", acrescentou Garavini di Turno, que considera "factível" uma declaração "na qual afirmem que vão diminuir a escalada, que vão continuar conversando para reduzir as tensões".
A Guiana levou o caso ao Conselho de Segurança da ONU e anunciou contatos com "aliados" militares, incluindo o Comando Sul dos Estados Unidos, que organizou exercícios militares em Essequibo.
O Brasil, que defende uma solução pacífica, anunciou a decisão de reforçar a presença militar na fronteira.
"Se esta reunião servir para falar sobre erradicar a ideia de entrar em um conflito armado, então eu a celebro", declarou à AFP o advogado especializado em litígios internacionais Ramón Escovar León.
- Petróleo, ponto de conflito -
A disputa é centenária, mas o litígio ganhou intensidade em 2015, depois que a empresa petrolífera americana ExxonMobil descobriu grandes reservas de petróleo bruto na área reivindicada.
A habitual retórica anti-imperialista do governo venezuelano acusa Ali de ser "um escravo" da ExxonMobil.
Garavini di Turno destacou que a Venezuela "curiosamente" evita mencionar as outras grandes empresas com participação na maior concessão atribuída pela Guiana na região, a do bloco Stabroek, como os casos da China National Petroleum Corporation e da também americana Chevron, duas empresas que operam no país, alvo de sanções de Washington.
Na segunda-feira, o chanceler venezuelano, Yván Gil, citou a possibilidade e uma "cooperação de petróleo e gás" e recordou os acordos da Petrocaribe, com os quais a Venezuela fornece petróleo a preços preferenciais a países caribenhos, e convênios de gás com Trinidad e Tobago, que chamou de "exemplos concretos" que podem servir de base para futuros acordos com a Guiana.
A Venezuela acusa a Guiana de atribuir concessões em águas marítimas que ainda devem ser delimitadas.
M.Kohnen--JdB