Arévalo descreve novo ataque do MP como 'golpe' à democracia da Guatemala
O presidente eleito da Guatemala, Bernardo Arévalo, rejeitou na sexta-feira (8) o novo ataque do Ministério Público que visa invalidar a sua vitória eleitoral e o descreveu como um "golpe no coração da democracia guatemalteca", faltando pouco mais de um mês para sua posse.
"Estamos diante de um golpe de Estado absurdo, ridículo e perverso", disse Arévalo em entrevista coletiva.
"É um golpe no coração da nossa democracia", frisou, convocando os guatemaltecos a "defender energicamente" as eleições e a "possibilidade de construir um país diferente".
Arévalo afirma que o Ministério Público busca impedi-lo de assumir o poder em 14 de janeiro, uma vez que poderosos setores políticos tradicionais temem sua promessa de combate frontal à corrupção.
Nesta nova ofensiva, a procuradora Leonor Morales denunciou anomalias nas "atas finais de encerramento do escrutínio" porque não foram aprovadas pelo "plenário" do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), portanto considerou que "são nulas" para validar os resultados do eleições.
Em entrevista coletiva, Morales destacou que a investigação foi realizada a partir de uma denúncia de "um cidadão", mas não o identificou nem mencionou os responsáveis.
O chefe da Procuradoria contra Impunidade, Rafael Curruchiche, anunciou que o TSE deverá analisar o resultado da investigação e tomar "a decisão a respeito".
A presidente do TSE, Blanca Alfaro, defendeu a eleição de Arévalo, um social-democrata de 65 anos que venceu no segundo turno presidencial em agosto, após o primeiro turno de junho.
"Os resultados estão validados, são oficiais e são inalteráveis". Os eleitos "devem tomar posse" em janeiro, "caso contrário há uma ruptura da ordem constitucional", afirmou.
A magistrada garantiu que o Ministério Público não tem "poder" para fazer com que o TSE anule uma eleição, "salvo decisão" da Corte de Constitucionalidade (órgão máximo do Judiciário).
Arévalo e seus apoiadores acusam a procuradora-geral Consuelo Porras de ser a arquiteta do "golpe de Estado" e pediram sua renúncia em manifestações de rua. "Os golpistas estão tentando destruir o regime democrático", insistiu o presidente eleito na sexta-feira.
Os Estados Unidos, a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a ONU condenaram as ações do Ministério Público.
Neste sábado, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, criticou as tentativas "persistentes e sistemáticas" de minar o resultado das eleições presidenciais na Guatemala e pediu que se respeite a vontade dos eleitores.
Sem dar o braço a torcer, o Ministério Público também acusou Arévalo na sexta-feira de supostas ilegalidades na formação do seu partido Semilla (Semente), em 2018, além de um suposto caso de lavagem de dinheiro, insistindo pela retirada da imunidade do presidente eleito.
Segundo o MP, Arévalo sabia da falsificação de assinaturas quando o partido foi criado e supostamente também não registrava as receitas da legenda.
Arévalo rejeitou essas acusações e disse que tudo "está devidamente documentado".
W.Lejeune--JdB