Exercícios militares e pedidos de diálogo: disputa Venezuela-Guiana preocupa comunidade internacional
Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (7) exercícios aéreos militares na Guiana, em meio à tensão crescente entre Georgetown e Caracas devido a uma disputa territorial antiga, enquanto a comunidade internacional pediu uma distensão.
A embaixada dos Estados Unidos na Guiana informou que, "em colaboração com a Força de Defesa guianense, o Comando Sul conduzirá operações de voo dentro da Guiana em 7 de dezembro", o que a Venezuela chamou de "provocação infeliz".
"Esse exercício se baseia em compromissos e operações de rotina para melhorar a associação de segurança entre os Estados Unidos e a Guiana e fortalecer a cooperação regional", afirma o comunicado.
O vice-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, disse que não especularia sobre o assunto. “Posso assegurar, no entanto, que cada movimento dos venezuelanos é rastreado, principalmente em nossas fronteiras", ressaltou, em entrevista coletiva.
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, rechaçou os exercícios. "Essa provocação infeliz dos Estados Unidos em favor dos pretorianos da ExxonMobil na Guiana é outro passo na direção incorreta. Advertimos que não nos desviarão de nossas futuras ações para a recuperação do Essequibo. Não se equivoquem!, publicou Padrino na rede social X.
Na véspera, Caracas havia acusado o presidente da Guiana, Irfaan Ali, de autorizar bases militares americanas no Essequibo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou com Ali ontem "para reafirmar o apoio inabalável dos Estados Unidos à soberania da Guiana", informou o Departamento de Estado.
Blinken fez um apelo para "uma solução pacífica" e o respeito das partes "à sentença arbitral de 1899, que determina a fronteira terrestre entre a Venezuela e a Guiana", a menos que "cheguem a um novo acordo, ou um órgão jurídico competente decidir de outra forma".
- 'Solução pacífica' -
Em declaração conjunta, Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Colômbia, Equador e Peru pediram um diálogo entre Guiana e Venezuela e a busca por uma solução pacífica.
"Uma coisa que não queremos aqui na América do Sul é guerra, nós não precisamos de conflito", disse, mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil reforçou a presença militar nas fronteiras com Guiana e Venezuela.
Há quatro dias, a Venezuela organizou um referendo em que mais de 95% das pessoas que participaram aprovaram a criação de uma província venezuelana no Essequibo e a concessão da nacionalidade aos 125 mil habitantes daquela região.
Após a consulta, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, propôs uma lei para criar uma província venezuelana na área disputada. Ele também ordenou que a petrolífera estatal PDVSA concedesse licenças para extrair petróleo bruto em Essequibo.
A disputa pelo Essequibo ganhou força depois que a petroleira americana ExxonMobil descobriu jazidas de petróleo importantes, em 2015.
Em meio à escalada, cinco militares morreram e outros dois sobreviveram a um acidente de um helicóptero do Exército da Guiana que perdeu contato na quarta-feira a 45 km da fronteira entre os dois países, em Essequibo, informou a força de defesa da Guiana.
O chefe das Forças Armadas guianenses, Omar Khan, disse à AFP que não há dados que "sugiram" que a Venezuela tenha algo a ver com o desaparecimento da aeronave, que será investigado.
- Reunião do Conselho de Segurança -
A Venezuela afirma que o Essequibo faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e apela ao acordo de Genebra. Este último foi assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, lançando as bases para uma solução negociada e anulando um laudo de 1899.
A pedido da Guiana, o Conselho de Segurança da ONU se reunirá a portas fechadas nesta sexta-feira para discutir o conflito territorial, segundo a agenda oficial.
Em carta à qual a AFP teve acesso, o chanceler guianense, Hugh Hilton Todd, solicita ao Conselho de Segurança "uma reunião urgente".
Enquanto isso, no âmbito da cúpula do Mercosul realizada no Rio de Janeiro, Lula propôs a mediação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) na disputa e pediu aos seus homólogos da Argentina, Uruguai e Paraguai que chegassem a uma declaração conjunta.
W.Lievens--JdB