Cidade do sul de Gaza cercada por tropas israelenses registra intensos combates
Tropas israelenses bombardearam, nesta quarta-feira (6), a cidade sitiada de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, onde os moradores tentam encontrar abrigo em meio aos combates mais intensos em dois meses de guerra contra o Hamas.
As ruas da cidade, onde também operam as tropas terrestres israelenses, estavam praticamente vazias na manhã desta quarta, enquanto os hospitais não param de receber mortos e feridos, segundo correspondentes da AFP.
Centenas de milhares de civis se dirigiram para esta cidade e arredores, muitos deles deslocados várias vezes desde o início desta guerra, que os empurra para um perímetro cada vez mais estreito perto da fronteira com o Egito, que permanece fechada.
"A cidade inteira sofre destruições e bombardeios incessantes. Há muitas pessoas lá que chegam do norte em condições desastrosas, sem refúgio, em busca de seus filhos", disse Hassan al Qadi, morador de Khan Yunis.
"Queremos entender. Se eles querem nos matar, deveriam nos cercar em um lugar e nos eliminar todos juntos. Mas nos forçar a mudar de um lugar para outro não é justo", disse ele.
- Khan Yunis cercada -
Depois de entrarem no norte da Faixa de Gaza em 27 de outubro, as tropas israelenses expandiram as suas operações para todo o território governado desde 2007 pelo movimento islamista Hamas.
Israel prometeu eliminar o grupo após o ataque de 7 de outubro, no qual milicianos islamistas mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, e fizeram cerca de 240 reféns, segundo as autoridades israelenses.
A ofensiva contra Gaza deixou até o momento 16.248 mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o governo do Hamas.
O Exército continuou bombardeando nesta quarta-feira o território palestino, de 362 km² e quase 2,4 milhões de habitantes, e anunciou a descoberta de "um dos maiores depósitos de armas da Faixa de Gaza" perto de uma clínica e de uma escola do norte.
O depósito continha centenas de lança-foguetes, mísseis antitanque e artefatos explosivos, mísseis de longo alcance e dezenas de granadas e drones, segundo o Exército, que afirmou que, desde o início da guerra, seus efetivos mataram "metade dos combatentes" do braço armado do Hamas.
Fontes do Hamas e da Jihad Islâmica explicaram à AFP que seus milicianos estão combatendo as tropas israelenses para impedir que entrem em Khan Yunis.
O Ministério da Saúde do movimento também reportou um bombardeio contra o campo de refugiados de Nuseirat (centro de Gaza), que deixou seis mortos, e outro com vários mortos em Jabaliya (norte).
Do lado israelense, em Eilat (sul) foram ouvidas sirenes de alerta devido ao disparo de um míssil terra-terra contra Israel, interceptado pela defesa antiaérea, segundo o Exército.
- 'Iminente colapso' -
Em uma carta dirigida ao Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu hoje que os bombardeios israelenses poderiam provocar um "iminente colapso total da ordem pública" em Gaza, que impossibilitaria até mesmo "uma assistência humanitária limitada".
Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a distribuição de ajuda em Gaza era "quase impossível".
O Exército israelense lança mensagens diárias sobre Khan Yunis com alertas de um bombardeio iminente e instando a população a abandonar os seus bairros.
Segundo as Nações Unidas, 28% da Faixa de Gaza está afetada por estas ordens de evacuação.
"Nenhum lugar é seguro em Gaza", criticou o coordenador de Assuntos Humanitários e Ajuda de Emergência da ONU (OCHA, na sigla em inglês), Martin Griffiths. "Nem os hospitais, nem os abrigos, nem os campos de refugiados. Ninguém está seguro", insistiu.
"Precisamos de alguém do nosso lado. Precisamos que alguém encontre uma solução para sairmos desta situação. Estamos devastados, mentalmente devastados", disse Amal Mahdi, morador de Khan Yunis.
- 'Missão crítica' para resgatar reféns -
A ONU calcula que 1,9 milhão de pessoas (cerca de 75% da população) foram deslocadas pela guerra em Gaza.
Os combates foram retomados após o fim da trégua negociada com a mediação do Catar, que permitiu a troca de dezenas de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.
O governo de Israel afirma que 138 reféns ainda estão detidos em Gaza, cujo resgate é uma "missão crítica", nas palavras do porta-voz do Exército, Daniel Hagari.
O Exército reivindicou que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) possa ter acesso aos reféns.
Na Cisjordânia ocupada, onde a violência vem crescendo desde que começou a guerra entre Israel e Hamas, três palestinos morreram nesta quarta em operações do Exército israelense, informou o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina.
Desde 7 de outubro, pelo menos 258 palestinos foram mortos pelo Exército ou por colonos israelenses, segundo a Autoridade Palestina, que administra a Cisjordânia.
W.Dupont--JdB