Contrabandistas norte-coreanos usam bandeiras de ilhas do Pacífico para importar petróleo
As "redes de contrabando" norte-coreanas estão registrando navios em países do Pacífico para se disfarçarem enquanto contrabandeiam petróleo, de acordo como ex-especialistas em sanções da ONU e documentos obtidos pela AFP.
Com sanções estritas que limitam a capacidade de Pyongyang de importar combustíveis, os contrabandistas na Coreia do Norte têm adotado métodos cada vez mais criativos para burlar as autoridades e evitar a fiscalização.
Segundo especialistas de segurança, estes esforços poderiam estar diretamente relacionados às ambições militares do país.
"Quase nenhuma ilha do Pacífico escapou às tentativas norte-coreanas de esconder seus navios", disse Neil Watts, ex-membro do painel de especialistas do Conselho de Segurança da ONU sobre a Coreia do Norte.
De acordo com uma base de dados do Centro de Estudos Avançados de Defesa, em Washington, que monitorou as linhas marítimas do Estreito de Taiwan e da Península Coreana, foram identificados 17 navios registrados em Palau, Niue, Ilhas Cook ou Tuvalu.
Ao monitorar estas embarcações, os especialistas da instituição identificaram padrões de "comportamento de alto risco" que acreditam estar associados às cadeias "ilícitas" do abastecimento de petróleo na Coreia do Norte.
Outros 11 navios com bandeiras de Niue ou Palau foram citados desde 2020 em relatórios do Conselho de Segurança da ONU, acusados de transportar petróleo para a Coreia do Norte.
Watts, um ex-capitão da Marinha sul-africana, disse que os contrabandistas procuram criar "camadas de confusão". Esta ação dificulta que investigadores determinem se um navio está realizando atividades legítimas ou transportando contrabando.
- Contrabando de petróleo -
Em agosto de 2020, um navio-tanque de 6.000 toneladas foi adquirido pelos seus novos proprietários após mais de uma década transportando carga para uma empresa de logística no Vietnã. Os registros indicam que foi renomeado como Sky Venus e registrado sob a bandeira de Palau.
A embarcação foi facilmente incorporada às frotas marítimas na Ásia, mas pesquisadores da ONU começaram a notar movimentos suspeitos.
De acordo com relatórios de sanções da organização, o Sky Venus atracou em terminais petrolíferos para carregar combustível antes de se encontrar com navios menores para entregar sua carga.
Em meados de 2021, o navio-tanque operava como uma "nave-mãe" de contrabando.
Através destas cadeias de transferências "de navio para navio", os investigadores afirmam que o combustível foi levado de volta para a Coreia do Norte.
A bandeira que um navio carrega tem pouco a ver com o local onde foi construído ou onde está baseada a sua tripulação. Os proprietários podem escolher uma bandeira pagando uma taxa, às vezes de alguns milhares de dólares, para se registrarem em um país.
Hugh Griffiths, especialista em sanções que chefiou o painel da Coreia do Norte no Conselho de Segurança da ONU entre 2014 e 2019, indicou que alguns registros do Pacífico foram procurados por contrabandistas.
"As redes de contrabando norte-coreanas sabem que estes registros não monitoram os navios que utilizam a sua bandeira", disse Griffiths à AFP. "Em geral, os contrabandistas mudaram de bandeira. As Ilhas Cook eram mais populares, depois Kiribati, Palau e Niue", completou.
- De petróleo a mísseis -
Joe Byrne, pesquisador do Royal United Services Institute em Londres, disse que Pyongyang está constantemente planejando novas formas de esconder suas "operações ilícitas".
Segundo ele, as cargas de carvão e petróleo parecem relativamente inócuas, mas ajudam a alimentar as ambições militares e os programas bélicos do país.
"Seja gerando receitas provenientes das exportações de carvão ou mantendo seus lançadores de mísseis operacionais com petróleo importado, a evasão das sanções pela Coreia do Norte está diretamente ligada ao seu programa de armas nucleares e mísseis balísticos", afirmou.
Em alguns casos, os investigadores podem seguir redes de contrabando rastreando navios que navegam para a Coreia do Norte. Mas normalmente têm de desvendar redes financeiras complexas concebidas para esconder quem está por detrás delas.
As Ilhas Cook confirmaram que três navios foram privados da bandeira do país entre janeiro de 2020 e abril de 2021.
"As Ilhas Cook cumprem as sanções da ONU e qualquer navio que esteja envolvido na evasão das sanções tem de perder a bandeira" de sua nação, disse à AFP o chefe do registro Moeroa Mamanu-Matheson.
Tuvalu ressaltou, por sua vez, as "táticas complexas" utilizadas pelos contrabandistas norte-coreanos, que acabam afetando "todas as bandeiras".
W.Lejeune--JdB