Hamas atrasa entrega de reféns até que Israel 'respeite o acordo'
O Hamas anunciou neste sábado (25) que atrasará a libertação de um novo grupo de reféns, em troca de prisioneiros palestinos, até que Israel "respeite o acordo" de trégua temporária, que proporcionou um segundo dia de alívio aos habitantes da Faixa de Gaza após sete semanas de guerra.
O braço armado do movimento islamista palestino, as Brigadas Ezzedine al-Qassam, pediu especialmente "a entrada de caminhões de ajuda humanitária no norte da Faixa de Gaza" e o respeito dos "critérios de seleção" para a libertação dos prisioneiros palestinos em troca dos reféns, antes de entregá-los ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Segundo Israel, que confirmou o atraso, o Hamas deveria entregar 14 reféns neste sábado em troca de 42 prisioneiros palestinos.
A trégua de quatro dias, renovável, obtida na quarta-feira por Catar, Estados Unidos e Egito, prevê a libertação de um total de 50 reféns israelenses, dos mais de 200 cativos em Gaza, e de 150 palestinos presos em Israel.
Esta pausa nos combates, renovável e que parecia estar sendo respeitada neste sábado, inclui também a entrada humanitária e de combustível em Gaza.
Os bombardeios israelenses em Gaza, contínuos desde o ataque perpetrado em Israel em 7 de outubro pelo Hamas, e a ofensiva militar no norte do território palestino cessaram, assim como os disparos de foguetes do Hamas em direção a Israel.
Na sexta-feira, o Hamas entregou um primeiro grupo de 13 reféns israelenses - assim como dez tailandeses e um filipino que não faziam parte do acordo inicial - ao CICV para serem levados a Israel via Egito.
Por sua vez, Israel libertou 39 palestinos presos, mulheres e jovens menores de 19 anos.
- "Não esquecer" -
Em Tel Aviv, os rostos sorridentes dos reféns libertados na sexta-feira foram projetados na fachada do Museu de Arte, com as palavras: "Estou de volta em casa".
"Hoje, estamos felizes em ver os nossos de volta, mas não devemos esquecer todos os que ainda não retornaram", disse Yael Adar, nora de Yaffa Adar, de 85 anos, e a mais idosa dos reféns libertados, no site de notícias Ynet.
"Não ficaremos em silêncio até que o último detido retorne para casa", prometeu Yael Adar, cujo filho Tamir, um pai de dois filhos de 38 anos, ainda está nas mãos do Hamas, sequestrado junto com sua avó no kibutz de Nir Oz.
O chefe do Estado-Maior israelense, general Herzi Halevi, alertou, no entanto, que a guerra não tinha terminado. "Começaremos a atacar Gaza novamente assim que a trégua terminar (...) para desmantelar o Hamas e criar uma enorme pressão para trazer de volta o mais rapidamente possível o maior número de reféns possível, até o último deles", afirmou.
- Júbilo na Cisjordânia -
Na Cisjordânia ocupada, cenas de alegria acompanharam o retorno dos prisioneiros libertados, recebidos como "heróis" em algumas áreas, com fogos de artifício, bandeiras palestinas e do movimento Hamas.
Em Jerusalém Oriental, ocupada por Israel desde 1967, as celebrações foram proibidas.
"Esperava o dia em que seria libertada da prisão e pudesse abraçar minha mãe", explicou à AFP Rawan Nafez Mohammad Abu Matar, de volta à sua casa perto de Ramallah, na Cisjordânia, e que foi condenada em 2015, aos 21 anos, a nove anos de prisão por tentativa de assassinato contra um guarda de fronteira israelense.
Em 7 de outubro, os combatentes do Hamas mataram 1.200 pessoas e sequestraram cerca de 240, segundo as autoridades, no pior ataque em solo israelense na história do país.
Em resposta, Israel bombardeou implacavelmente o pequeno território. O grupo islamista, que governa Gaza desde 2007, afirma que 14.854 pessoas morreram até agora, incluindo 6.150 crianças, devido à ofensiva israelense.
- Hospitais lotados -
A trégua representa um primeiro momento de alívio para os habitantes de Gaza, que também enfrentam um "cerco total" por parte de Israel, com acesso limitado a água, comida, eletricidade e medicamentos.
Nos hospitais do sul do enclave, os comboios de ambulâncias que evacuam feridos para o norte continuam chegando. No entanto, como afirmou Ashraf al Qidreh, porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, "eles não têm mais capacidade de acolhimento nem equipamento".
"A trégua é boa, esperamos que dure. [...] As pessoas querem viver", confessou à AFP Mohammed Dheir, que encontrou refúgio com sua família em Rafah, no sul.
O Exército considera que o terço norte da Faixa de Gaza, onde se encontra a cidade de Gaza, é uma zona de combate que abriga o centro de infraestrutura do Hamas. Ele ordenou que a população deixasse essa área e proíbe o retorno.
Ainda assim, milhares de palestinos, que haviam fugido para o sul, tentaram se deslocar para o norte da Faixa de Gaza, segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), que relatou uma morte e vários feridos em incidentes com as forças israelenses que impediram a passagem.
De acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, sete pessoas ficaram feridas por disparos israelenses.
A trégua também deverá permitir a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza. Na sexta-feira, 200 comboios de caminhões carregados com ajuda humanitária entraram, segundo o serviço do Ministério da Defesa de Israel, responsável pelos assuntos civis nos territórios palestinos.
A OCHA afirmou que esses comboios constituíam "o maior comboio humanitário" desde o início da guerra.
R.Verbruggen--JdB