Representante especial para os Direitos Humanos da UE visita Cuba
O representante especial da União Europeia para os Direitos Humanos, Eamon Gilmore, iniciou nesta quinta-feira (23) uma visita a Cuba para falar sobre a situação de centenas de manifestantes presos em 11 de julho de 2021, cuja libertação é exigida por Bruxelas, Washington e ONGs.
"Em Havana, no início da minha visita de dois dias para co-presidir o Diálogo UE-Cuba sobre Direitos Humanos, no âmbito do ADPC (Acordo de Diálogo Político e Cooperação UE-Cuba, em vigor desde 2017), e reunir-me com o Governo, as instituições e a sociedade civil", disse Gilmore em uma mensagem na rede social X.
"Discutirei uma ampla gama de assuntos", acrescentou o diplomata irlandês, que visita a ilha comunista abalada há dois anos pelas manifestações de 11 e 12 de julho de 2021, quando milhares de cubanos saíram às ruas gritando "temos fome" e "liberdade".
Segundo organizações de direitos humanos e dados da embaixada dos Estados Unidos, Cuba tem cerca de mil "presos políticos", incluindo os detidos relacionados às manifestações de 2021.
O governo informou que cerca de 500 manifestantes foram condenados, alguns a até 25 anos, por esses protestos.
Liset Fonseca, mãe do manifestante Roberto Pérez Fonseca, de 38 anos e que cumpre pena de 10 anos, disse à AFP que Gilmore "vai se encontrar com as mães".
"Acabaram de me dizer que ligaram para uma mãe que conheço e que ele vai se encontrar com mais duas", disse ela, sem dar nomes porque afirmou que não está autorizada.
- Defender os filhos -
Esta mulher de San José de las Lajas, cidade a 35 km de Havana, disse que ela e outros familiares enviaram mensagens ao representante da União Europeia para solicitar um encontro.
"Gostaríamos que ele se reunisse com os familiares e visitasse os presos, para rever todos os casos, para investigar verdadeiramente" o que aconteceu, acrescentou Fonseca.
"Quero defender os meus três filhos e todos", disse Emilio Román, pai de dois rapazes, de 25 e 18 anos, e de uma jovem de 23 anos, dois dos quais foram condenados a 10 anos e o mais novo a cinco.
Os três foram detidos em Güinera, um bairro violento de Havana, após as manifestações de 12 de julho.
Os familiares consultados expressaram dúvidas sobre a possibilidade de se reunirem sozinhos com o relator, pois frequentemente os agentes da Segurança do Estado os impedem de sair de casa.
Esta visita ocorre uma semana depois de Cuba ter sido alvo de críticas no âmbito da Revisão Periódica Universal do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
Várias nações, especialmente países europeus e os Estados Unidos, expressaram preocupação com detenções arbitrárias, penas de prisão desproporcionais, além do assédio a defensores dos direitos humanos e jornalistas independentes.
Nesse mesmo dia, a Chancelaria cubana afirmou que em Cuba "não há presos políticos". "Ninguém é condenado pela sua opinião política", indicou em sua conta na rede social X, antigo Twitter.
A Anistia Internacional (AI) exigiu em maio a libertação "imediata e incondicional" dos artistas Luis Manuel Otero Alcántara e Maykel “Osorbo” Castillo, assim como do líder da oposição José Daniel Ferrer, declarados "prisioneiros de consciência" pela organização.
R.Michel--JdB