Journal De Bruxelles - Milei, o profeta da dolarização que rompeu com bipartidarismo na Argentina

Milei, o profeta da dolarização que rompeu com bipartidarismo na Argentina
Milei, o profeta da dolarização que rompeu com bipartidarismo na Argentina / foto: Luis ROBAYO - AFP

Milei, o profeta da dolarização que rompeu com bipartidarismo na Argentina

Genioso, franco, espontâneo, o ultraliberal economista Javier Milei ficou conhecido pela veemência de suas críticas econômicas e rompeu com os moldes do bipartidarismo dominante na Argentina para chegar à Presidência, neste domingo (19), com a promessa de dolarizar a economia.

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Com declarações contra a "casta política parasitária e ladra", o libertário convenceu mais da metade dos argentinos a "dinamitar" o Banco Central, reduzir o tamanho do Estado e cortar os gastos públicos.

A Argentina padece de uma inflação anual de três dígitos e de uma pobreza que alcança 40% da população. É no contexto destes reveses econômicos que os argentinos elegeram seu programa disruptivo no lugar da proposta de seu adversário, o ministro da Economia Sergio Massa, um peronista de centro.

"As propostas de Milei de levantar a Argentina nos dão a esperança de ficar porque os jovens, se isto continuar assim, têm a ideia de ir embora do país", disse à AFP Carolina Carbajal, de 20 anos.

Milei nega que haja um abismo salarial entre homens e mulheres, considera o aborto um assassinato e avalia que "as políticas que culpam o ser humano das mudanças climáticas são falsas".

Ele também repudia o consenso de 30.000 desaparecidos na última ditadura (1976-1983), estabelecido por organizações de defesa dos direitos humanos, ao estimar este número em menos de um terço.

Com propostas como estas, que antes "eram marginais e agora se tornaram centrais", Milei se tornou um líder de "uma importância pública inusitada para a extrema direita na Argentina", disse à AFP Gabriel Vommaro, cientista político da Universidade de San Martín.

- 'Fala como eu' -

Milei canalizou a raiva dos eleitores decepcionados com o peronismo, a corrente política que marca a história da Argentina desde os anos 1940, criada em torno da figura do militar populista Juan Domingo Perón.

"As pessoas começam a escutar um senhor indignado que parece alienado, e pensam, 'Finalmente alguém fala como eu', porque tem a franqueza de dizer as coisas", apontou Belén Amadeo, cientista política da Universidade de Buenos Aires, em declarações à AFP.

Porém, seu estilo inicialmente muito marcado pelo confronto não sobreviveu além do primeiro turno de 22 de outubro, no qual conquistou 30% dos votos.

Após ficar em segundo lugar atrás de Sergio Massa (37%), Milei buscou acordos para o segundo turno, e para isso, tentou rever suas declarações. Conseguiu, assim, o apoio da conservadora Patricia Bullrich e a aprovação do ex-presidente liberal Mauricio Macri (2015-2019).

Milei "veio representar muitos cidadãos comuns que se cansaram", disse Macri em colóquio no centro de estudos Wilson Center, em Washington.

Com cabeleira cheia e desalinhada, que lhe rendeu o apelido "el Peluca" (o peruca, em tradução livre), o presidente eleito de 53 anos é frequentemente chamado também de "loco" (louco).

A estes motes, ele respondia durante a campanha: "Sabe qual é a diferença entre um gênio e um louco? O sucesso".

- Nascido na TV -

Milei como 'influencer' surgiu na televisão em 2015, fazendo críticas econômicas furiosas em programas de opinião. Logo, seus comentários alimentaram as redes sociais e alcançaram jovens, muitos dos quais consideram seu discurso inovador e rebelde.

Matías Esoukourian, um estudante de economia de 19 anos, comentou que esta é a razão pela qual o apoia. "Não tem experiência e muitas vezes isso se percebe", disse o jovem.

"Porém, quando você o vê falar do tema, percebe que há paixão e conhecimento no que ele diz", avaliou.

Milei trabalhou no setor privado até 2021, quando foi eleito deputado do recém-formado partido 'A Liberdade Avança'. Desde então, rompeu com o bipartidarismo argentino e dominou a agenda midiática.

Nascido em Buenos Aires em 1970, quando jovem jogou futebol e cantou em uma banda cover dos Rolling Stones.

Segundo "Loco", a biografia não autorizada feita pelo jornalista Juan Luis González, Milei não aceita a morte de seu cachorro Conan e se refere a ele como um dos "cinco" cachorros/filhos que o acompanham.

Seus outros quatro mastins ingleses são clones de Conan nascidos de um procedimento que Milei realizou nos Estados Unidos. Ele se comunica com eles, os vivos e o morto, graças às supostas manifestações de uma "médium" especializada na "comunicação interespécies".

Solteiro, sem filhos e com poucos amigos, apresentou recentemente a atriz e humorista Fátima Flórez, sua nova namorada, em um programa de televisão.

Milei estudou Economia na renomada Universidade de Belgrano e fez duas pós-graduações em instituições locais. Já publicou vários livros e também foi acusado de plagiar parágrafos inteiros.

O.M.Jacobs--JdB