Journal De Bruxelles - Tropas israelenses se retiram de principal hospital de Gaza, refúgio de milhares de civis

Tropas israelenses se retiram de principal hospital de Gaza, refúgio de milhares de civis
Tropas israelenses se retiram de principal hospital de Gaza, refúgio de milhares de civis / foto: - - AFP/Arquivos

Tropas israelenses se retiram de principal hospital de Gaza, refúgio de milhares de civis

O Exército israelense se retirou, na noite desta quarta-feira (15), do hospital Al Shifa, o maior da Faixa de Gaza, onde milhares de palestinos estão abrigados, após terem entrado no local pela manhã alegando que o complexo médico funcionava como base do movimento islamista Hamas.

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De acordo com um jornalista que colabora com a AFP, as tropas israelenses se retiraram e estabeleceram posição ao redor da unidade hospitalar na cidade de Gaza que está há dias no centro dos confrontos.

Na manhã desta quarta-feira, dezenas de soldados israelenses entraram no hospital Al Shifa e pediram a "todos os homens com mais de 16 anos" que saíssem com "mãos para cima (...) e seguissem em direção ao pátio interno para rendição", segundo o repórter.

Os agentes israelenses foram de quarto em quarto, atirando para o alto, em busca de combatentes do Hamas. Cerca de 1.000 palestinos saíram para o pátio e alguns foram despidos e revistados em busca de armas ou explosivos.

O repórter informou que, antes de saírem do hospital, os soldados deixaram remédios, alimentos para lactantes e garrafas d'água.

Israel anunciou uma "operação seletiva e de precisão contra o Hamas em um setor específico do hospital Al Shifa". Washington, a Cruz Vermelha e a Organização Mundial da Saúde apelaram à máxima cautela com os civis.

Contatadas pela AFP, as forças israelenses não se pronunciaram sobre estas informações.

Segundo Israel, o Hamas utiliza o hospital de Al Shifa para esconder suas infraestruturas de comando, uma acusação corroborada por Washington e negada pelo movimento islamista.

O Hamas declarou que o presidente americano, Joe Biden, era "totalmente responsável" pelo ataque, visto que Washington apoiou as acusações de Israel, afirmando que tanto o grupo que governa a Faixa de Gaza como o seu aliado Jihad Islâmica "operam um núcleo de comando e controle de Al Shifa".

"Não demos aprovação às suas operações militares ao redor do hospital", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, aos jornalistas, garantindo que tais decisões cabem ao Exército de Israel.

Segundo a ONU, quase 2.300 pessoas estão no hospital Al Shifa, sem acesso ao abastecimento de água e sem energia elétrica, devido à falta de combustível para alimentar os geradores.

Em 7 de outubro, o Hamas executou um ataque surpresa no sul de Israel, no qual morreram quase 1.200 pessoas, além de ter sequestrado outras 240, segundo as autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o grupo islamista e bombardeia a Faixa de Gaza diariamente. Mais de 11.300 palestinos foram mortos nos ataques, incluindo mais de 4.600 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

- "Não há nenhum lugar que não possamos alcançar" -

A comunidade internacional se demonstrou profundamente preocupada com os civis presos no interior do hospital Al Shifa.

"A proteção dos recém-nascidos, dos pacientes, do pessoal médico e de todos os civis deve ser prioridade sobre todas as outras questões", escreveu o subsecretário da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, na rede X.

A Casa Branca havia apoiado as acusações de Israel sobre os postos de comando no centro médico, mas reiterou que "hospitais e pacientes devem ser protegidos".

Testemunhas descreveram as terríveis condições dentro do hospital, com poucos suprimentos médicos e onde as famílias vivem com a escassez de água e alimentos, em meio ao cheiro de cadáveres em decomposição.

O conflito em Gaza é "uma guerra contra a existência dos palestinos", declarou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou, por sua vez, que "não há nenhum lugar em Gaza que não possamos alcançar", advertiu, prometendo eliminar o Hamas e resgatar os reféns.

O gabinete de governo do premiê divulgou uma carta em que sua esposa, Sarah Netanyahu, afirmava que uma mulher sequestrada pelo grupo islamista deu à luz em cativeiro.

Nesta quarta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, condenou "com a maior firmeza todos os bombardeios (...) contra infraestruturas civis que devem ser protegidas pelo nosso direito internacional e pelo direito humanitário".

- "Amaldiçoamos o governo israelense" -

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, denunciou o custo humano dos bombardeios de Israel, que classificou como "Estado terrorista". "Amaldiçoamos o governo israelense", afirmou.

A Faixa de Gaza está cercada por Israel desde 9 de outubro, o que deixou a população do território em condições humanitárias desastrosas, sem produtos básicos.

A ONU informou que 200.000 palestinos fugiram do norte do território desde 5 de novembro, após a abertura de "corredores" de saída por parte de Israel. A organização afirma que 1,65 milhão dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa estão deslocados.

Nesta quarta-feira, Israel permitiu a entrada de quase 23.000 litros de combustível no território palestino, com a condição de que serão utilizados apenas "para o transporte de ajuda", informou a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).

Martin Griffiths afirmou, por sua vez, que Israel decidiu não limitar o número de caminhões que transportam ajuda humanitária para Gaza.

S.Vandenberghe--JdB