Falta de combustível ameaça suspender operações humanitárias da ONU em Gaza
A ONU alertou, nesta segunda-feira, que deverá suspender suas operações de ajuda humanitária na Faixa de Gaza dentro de "48 horas" por falta de combustível, que deixou os hospitais do norte do território palestino fora de serviço, segundo o movimento islamista Hamas, em guerra contra Israel.
Há semanas, as Nações Unidas pedem que se permita a entrada de combustível em Gaza, mas Israel afirma que a chegada do suprimento poderia beneficiar as operações militares do Hamas, que governa o pequeno território de 362km².
A Faixa de Gaza vem sendo bombardeada desde 7 outubro, em represália ao ataque perpetrado pelo Hamas que deixou quase 1.200 mortos, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses.
"As operações humanitárias em Gaza serão paralisadas nas próximas 48 horas, já que não se permite a entrada de combustível", indicou Thomas White, diretor da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) no X (antigo Twitter).
O Ministério da Saúde do Hamas afirmou, nesta segunda-feira, que os hospitais do norte do território palestino, onde ferozes combates entre milicianos do Hamas e tropas israelenses são travados, estavam "fora de serviço".
O hospital de Al-Shifa, o maior de Gaza, ainda abriga 2.300 pessoas, incluindo pacientes, funcionários e deslocados, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Milhares de civis buscaram se refugiar nesse local situado na Cidade de Gaza após a ofensiva terrestre lançada em 27 de outubro por Israel, com o objetivo de "aniquilar" o grupo islamista.
Segundo o Hamas, mais de 11.000 pessoas morreram pela ofensiva israelense desde o início do conflito, em sua maioria civis.
- Morte de "bebês prematuros" -
"Há dezenas de mortos e centenas de feridos que não podemos atender. As ambulâncias estão paradas porque são alvos de tiros quando saem", afirmou o diretor do hospital, Mohamad Abu Salmiya.
O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, qualificou a situação de Al-Shifa como "grave e perigosa" devido à falta de energia elétrica e de água, consequência do cerco imposto por Israel à Faixa de Gaza há mais de um mês.
Várias testemunhas relataram bombardeios intensos durante a noite e afirmaram que tanques e blindados foram posicionados a poucos metros da entrada do hospital.
Israel acusa o Hamas de esconder equipamento militar nos centros médicos.
Yusef Abu Rish, vice-ministro da Saúde do governo de Hamas, afirmou à AFP que desde sábado "sete bebês prematuros e 27 pacientes no CTI" morreram devido à falta de energia elétrica no hospital Al-Shifa.
Mohamad Shtayyeh, o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, pediu à ONU e à União Europeia que enviem ajuda por via aérea ao norte de Gaza, onde se concentram os combates.
Israel anunciou que estabelecerá um "corredor" em Gaza para que os civis evacuem a região do hospital Al-Shifa.
- "Combates intensos" -
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou no domingo ao canal americano NBC que existe a possibilidade de um acordo para libertar os quase 240 reféns sequestrados pelo Hamas durante a ofensiva de 7 de outubro.
"Quanto menos eu falar sobre isto, mais eu amento as chances de que se concretize", disse.
Os militares israelenses informaram que seus soldados prosseguem com as "operações contra infraestruturas terroristas instaladas em prédios governamentais, em meio à população civil, incluindo escolas, universidades e mesquitas".
Pelo menos 44 soldados morreram na ofensiva, informou o Exército israelense.
O comissário europeu para Gestão de Crises, Janez Lenarcic, pediu "pausas reais" nos combates em Gaza que permitam a entrega urgente de combustíveis para o funcionamento dos hospitais.
"Mais da metade dos hospitais da Faixa de Gaza deixaram de funcionar, principalmente por falta de combustível", indicou Lenarcic.
- Pacientes "sem atendimento" -
Os escritórios da ONU em todo o mundo baixaram suas bandeiras a meio mastro nesta segunda-feira em sinal de luto e fizeram um minuto de silêncio em homenagem a seus trabalhadores mortos em Gaza durante o conflito.
A situação também é crítica para outros centros de saúde do território palestino, disse Mohamed Zaqut, diretor da rede hospitalar de Gaza.
O Crescente Vermelho palestino afirmou que outro hospital, o centro Al-Quds, parou de funcionar no domingo por falta de combustível.
"O Exército israelense ordenou que saíssemos do hospital Al-Quds", disse à AFP Islam Shamallah, que precisou caminhar mais de 10 quilômetros com a filha nos braços, ao lado do marido e de outros três filhos que se deslocam com dificuldades.
Quase 1,6 milhão dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza abandonaram suas casas desde o início da guerra.
No sul do território palestino, perto da passagem de fronteira com o Egito, centenas de milhares de deslocados aguardam a entrada de ajuda humanitária, que chega de maneira lenta e insuficiente, segundo a ONU.
D.Mertens--JdB