Journal De Bruxelles - Mães adolescentes estudam junto com seus bebês em escola do Texas

Mães adolescentes estudam junto com seus bebês em escola do Texas
Mães adolescentes estudam junto com seus bebês em escola do Texas / foto: VERONICA G. CARDENAS - AFP

Mães adolescentes estudam junto com seus bebês em escola do Texas

Yarezi Alvarado acorda cedo para ir à escola no Texas. Além da mochila, ela também prepara as mamadeiras de Kamila, sua filha de um ano, que a acompanha no ônibus escolar.

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"Tenho que preparar as fraldas dela, os panos úmidos, o leite. Arrumá-la. Principalmente levar roupa limpa para trocá-la caso se suje", conta a jovem de 17 anos.

Os ônibus têm assentos de segurança para bebês. As jovens mães e seus filhos vão para a escola de ensino médio Lincoln Park, em Brownsville, localizada em um bairro hispânico de baixa renda e perto da fronteira com o México, no sul dos Estados Unidos.

A escola recebe mulheres entre 14 e 22 anos que já são mães ou estão grávidas. Enquanto frequentam as aulas, seus filhos permanecem em uma creche dentro da mesma escola. As mães que ainda amamentam podem ir buscá-los quando necessário.

"Ter minha filha na escola é bom porque sei que ela está aqui e eles estão cuidando bem dela. E posso ir vê-la. Então me sinto mais confortável", conta Yarezi. Às vezes, os pequenos também são levados à biblioteca para que uma professora leia uma história.

O Texas é um dos vários estados conservadores que tornaram o aborto ilegal depois de, há quase um ano e meio, a Suprema Corte ter anulado o caso Roe vs. Wade, que garantiu durante meio século a nível federal o direito das mulheres de interromper a gravidez.

Lá, o acesso dos menores de idade a contraceptivos exige a autorização de um adulto e a educação sexual nas escolas não é obrigatória.

- "Não é uma deficiência" -

Yarezi tem ajuda da mãe, mas outras colegas foram discriminadas nas suas antigas escolas ou pela família e vivem com o pai do filho ou na casa de um familiar.

De acordo com o Centro de Controle e Detecção de Doenças (CDC) do governo, a taxa de natalidade entre adolescentes (15 a 19 anos) nos Estados Unidos caiu 3% em 2022 em relação ao ano anterior e 78% desde 1991.

Mas no Texas, em 2021, a taxa de natalidade entre adolescentes era 2,4 vezes maior entre as jovens hispânicas do que entre as jovens brancas, de acordo com a ONG Healthy Futures of Texas. "É uma realidade para a qual deveríamos ter um plano", considera a diretora da escola, Cynthia Cárdenas.

O acesso aos cuidados de saúde, a baixa escolaridade e os baixos níveis de renda familiar podem contribuir para as altas taxas de natalidade entre adolescentes, de acordo com o CDC. Em alguns casos, ex-alunas levaram para esta escola suas filhas que também engravidaram.

Mas "lembramos a elas que estar grávida não é uma deficiência, é uma condição de nove meses, elas devem seguir em frente porque têm a oportunidade de serem bem-sucedidas", afirma a diretora.

Este ano, a escola acolhe 16 bebês, a sua lotação máxima, e há vários na lista de espera.

- Sem tarefa -

Criada na década de 1990, esta escola é uma das poucas deste tipo nos Estados Unidos. A escola compreende que a frequência das aulas é afetada por exames médicos ou noites mal dormidas quando as mães têm que cuidar dos bebês. "Se essa escola não existisse, provavelmente minhas 53 alunas teriam parado de estudar", diz Cárdenas.

Segundo dados da ONG Child Trends, apenas 53% das jovens que foram mães na adolescência se formam, enquanto 90% das que não foram mães o fazem.

As alunas que devem ficar em casa após o parto recebem visitas periódicas dos professores. A escola, com financiamento estadual, conta também com uma enfermeira especializada.

"Não levamos lição de casa, terminamos tudo na escola, assim posso ficar mais tempo com a minha filha", explica Yarezi.

- Cochilo -

A professora de ciências GeorgeAna Wilson diz que "às vezes as meninas passam a noite toda sem dormir porque o bebê está doente e elas têm dificuldade em fazer as tarefas. Então digo a elas para tirarem um cochilo de dez minutos, em seu assento, sobre a mesa".

"Nas escolas regulares, eles não entenderiam a nossa situação. Aqui não nos julgam, nos ajudam, se comunicam conosco. Eles entendem a situação de ser mãe", diz Milla Luevano, de 17 anos, mãe de Román, de dois anos.

Milla, que sonha em ser professora, sugere que outras adolescentes que passam pela mesma situação continuem frequentando a escola. "Não desistam, vocês podem se arrepender mais tarde. Queremos um futuro", afirma.

Yarezi quer ser ginecologista e diz que vale a pena o esforço: "Termine a escola (...) Você consegue. Seu filho precisa de você, não desista. Esse bebê é a sua vida agora".

X.Lefebvre--JdB