Journal De Bruxelles - Ameaça de greve ofusca abertura do Salão do Automóvel de Detroit

Ameaça de greve ofusca abertura do Salão do Automóvel de Detroit
Ameaça de greve ofusca abertura do Salão do Automóvel de Detroit / foto: BILL PUGLIANO - GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP/Arquivos

Ameaça de greve ofusca abertura do Salão do Automóvel de Detroit

O prestigioso Salão do Automóvel de Detroit apresentará, nesta semana, novos veículos elétricos, mas a edição de 2023 pode ser ofuscada por árduas negociações trabalhistas, que poderão, inclusive, levar a uma greve das grandes fabricantes automotivas.

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A abertura do evento ao público está marcada para sábado (16), após a exibição reservada à imprensa e aos profissionais do setor.

Entretanto, este ano, a feira - que é uma plataforma para os produtos das "três grandes" de Detroit: General Motors, Ford e Stellantis - ocorre em meio ao um contexto complexo.

As três empresas negociam há meses com o sindicato United Auto Workers (UAW, na sigla em inglês) e seu novo presidente, Shawn Fain, novos acordos coletivos com uma data limite até a próxima quinta-feira (14).

"As negociações sindicais estão na mente de todos", disse Alan Amici, presidente do Centro de Pesquisa Automotiva, uma ONG dos EUA. Empresas e trabalhadores trocaram propostas e contrapropostas, com Fain manifestando publicamente a sua insatisfação.

"Se chegarmos às 23h55 de quinta-feira sem um acordo com nenhuma das três fabricantes, haverá greve nas três empresas se necessário", enfatizou o dirigente na última sexta-feira.

Fain entende que os funcionários merecem o mesmo aumento salarial de 40% dado aos gestores das fabricantes. Mas as propostas das companhias automotivas estão muito longe desta possibilidade.

O sindicato representa cerca de 150 mil funcionários dos três grupos, dos quais 97% já se mostrou de acordo com uma possível greve.

A edição de 2022 do Salão do Automóvel de Detroit não teve a presença de grandes fabricantes estrangeiras como a Toyota e a Volkswagen, habituadas ao tradicional período de janeiro, que mudou no ano passado, para permitir uma maior afluência de público.

- Data limite -

Este ano, um dos eventos mais esperados é a apresentação na noite de terça-feira da nova versão da picape Ford F150, o automóvel mais vendido dos Estados Unidos. No dia seguinte, a GM e a Stellantis (Fiat, Chrysler) também planejaram apresentar seus veículos à imprensa.

Espera-se que o sindicato esteja presente nas proximidades do evento à medida que a data limite se aproxima.

A Ford foi a primeira fabricante a fazer uma proposta ao UAW, para um reajuste de 9% durante os quatro anos do acordo coletivo, além de um bônus único de 6%.

Para Fain, este aumento foi considerado "um insulto ao valor" dos funcionários. O sindicato também rejeitou a "proposta insultuosa" da GM.

Já a Stellantis apresentou sua proposta na sexta-feira: um aumento de 14,5% nos salários, além de um bônus único de US$ 6.000 (cerca de R$ 30 mil, na cotação atual) no primeiro ano do acordo, incluindo também mais US$ 4.500 (R$ 22,5 mil) nos três anos seguintes.

"É um avanço", pois "colocamos pressão sobre isso", destacou o diretor, que, no entanto, ainda considera os números "profundamente inadequados", já que "não compensam a inflação", "as décadas de queda salarial" e "não refletem os benefícios importantíssimos que geramos para esta empresa", completou.

Muitos analistas preveem que a greve acontecerá, inicialmente, em uma única empresa, como aconteceu em 2019, na GM, durante seis semanas.

Caso a mobilização aconteça, pode gerar impacto direto nos fornecedores, que poderiam fazer cortes de funcionários.

P.Renard--JdB