Journal De Bruxelles - Encapuzados vandalizam parte externa do palácio presidencial durante marcha no Chile

Encapuzados vandalizam parte externa do palácio presidencial durante marcha no Chile
Encapuzados vandalizam parte externa do palácio presidencial durante marcha no Chile / foto: Pablo VERA - AFP

Encapuzados vandalizam parte externa do palácio presidencial durante marcha no Chile

Encapuzados vandalizaram a parte externa do palácio presidencial de La Moneda neste domingo (10) durante a marcha pelos 50 anos do golpe de Estado que derrubou Salvador Allende no Chile, da qual o presidente de esquerda Gabriel Boric participou.

Tamanho do texto:

Os manifestantes entraram em confronto com a polícia nos arredores da sede do governo e no cemitério onde está localizado um memorial das vítimas da ditadura de Augusto Pinochet, o general que derrubou Allende em 11 de setembro de 1973.

Os policiais lançaram gás lacrimogêneo e jatos de água nos encapuzados que causaram distúrbios. Pelo menos três pessoas foram detidas e três policiais ficaram feridos, de acordo com o comunicado do governo.

Mais cedo, um grupo de manifestantes destruiu com pedras e paus as janelas de La Moneda, pichou as paredes e derrubou as cercas que cercavam o percurso do protesto.

"Como Presidente da República, condeno categoricamente esses atos sem nenhum tipo de matiz. (...) A irracionalidade de atacar aquilo pelo qual Allende e tantos outros democratas lutaram é vil e mesquinha", reagiu o presidente Gabriel Boric em sua conta na rede social X, antigo Twitter.

Meio século após o golpe militar, o Chile ainda está dividido entre aqueles que defendem e repudiam a ditadura.

Atualmente, os herdeiros políticos de Allende governam, mas o Partido Republicano, que reivindica o legado de Pinochet, venceu as recentes eleições dos constituintes que estão redigindo um projeto de Carta Fundamental que poderia substituir a escrita pela ditadura.

- "Traição abominável" -

Os incidentes mancharam a marcha de cerca de 5.000 pessoas que percorreu parte do centro de Santiago em direção ao Cemitério Geral.

O esquerdista Boric se juntou brevemente à manifestação. É o primeiro governante desde o retorno à democracia em 1990 a participar dessa mobilização, que acontece todos os anos para o 11 de setembro.

À tarde, Boric recebeu em La Moneda o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que viajou para estar presente nos eventos do 50º aniversário do golpe.

"A traição de Augusto Pinochet foi abominável. É uma mancha que não se apaga nem com toda a água dos oceanos", disse López Obrador, referindo-se ao fato de que apenas horas antes do golpe, o general Pinochet havia declarado sua lealdade a Allende.

Allende, que se suicidou no mesmo dia do golpe, foi derrubado pelos militares liderados por Pinochet, que comandou uma ditadura que durou 17 anos e deixou mais de 3.200 vítimas entre mortos e desaparecidos.

Por ocasião deste aniversário, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enviou uma mensagem na qual afirmou que o golpe de 1973 "foi uma ruptura institucional que rompeu os laços de convivência e marcou gerações de chilenos e chilenas".

"Neste aniversário, celebremos o compromisso chileno com a democracia e os direitos humanos e reafirmemos nosso compromisso em construir um mundo mais justo, solidário e pacífico", pediu.

- "Retrocedemos" -

Apesar dos distúrbios, a marcha ocorreu com pessoas nas ruas portando bandeiras chilenas, de partidos de esquerda e faixas com lemas como "Verdade e justiça agora" e "Allende vive".

"O 11 de setembro é uma data que nos enche de lembranças, mas também nos causa um pouco de angústia, porque em vez de avançarmos, retrocedemos", disse Patricia Garzón, 76 anos, ex-prisioneira política e parceira de uma vítima assassinada pela ditadura.

No início deste domingo, Boric inaugurou, junto com a família de Allende, uma instalação na porta pedestre de La Moneda, na rua Morandé, de onde o corpo do governante foi retirado após ele se suicidar com um tiro.

No contexto da exposição "O Caminhar de um Democrata", os sapatos que Allende usava durante o golpe de Estado estão em uma vitrine, no dia em que a Força Aérea bombardeou o Palácio de La Moneda.

E.Goossens--JdB