Cinco presos em protesto em cidade cubana serão levados à justiça
Pelo menos cinco cubanos foram detidos na manifestação ocorrida na cidade de Caimanera (leste), próxima à base naval americana de Guantánamo, e serão apresentados à justiça, informaram fontes oficiais e familiares nesta terça-feira (9).
Dezenas de pessoas saíram para protestar no sábado à noite aos gritos de "Liberdade, Liberdade", em Caimanera, a 1.000 quilômetros de Havana.
A manifestação foi dispersada por militares que agrediram e prenderam manifestantes. "São cinco jovens que estão neste momento machucados" e detidos, disse por telefone à AFP Victoria Martínez, mãe de dois presos.
A falta de alimentos e medicamentos esteve na origem do protesto neste povoado pesqueiro de aproximadamente 10.000 habitantes, acrescentou Martínez.
"Nenhum deles (presos) é contrarrevolucionário, todos somos revolucionários", disse ao esclarecer que não traziam armas e que não agrediram ninguém.
"Possivelmente, gritaram porque tinham fome e toda a cidade gritou o mesmo", indicou.
Na noite da manifestação, vários vídeos com dezenas de pessoas protestando viralizaram nas redes sociais. Minutos depois, a internet foi interrompida em toda a ilha, confirmou o NetBlocks, um site com sede em Londres que vigia esses bloqueios da internet.
Cuba vive sua pior crise econômica em 30 anos, com escassez de alimentos, medicamentos e, no último mês, a falta de combustível também se aprofundou.
Autoridades municipais de Caimanera informaram que os presos serão apresentados à justiça.
"Fatos dessa índole que atentem contra a paz social não vão ficar impunes e os infratores serão apresentados aos órgãos judiciais", disse, em nota, Saimara Llamaré, presidente da Assembleia do Poder Popular de Caimanera.
A Anistia Internacional Américas qualificou de "preocupantes" essas prisões "arbitrárias" e pediu ao governo a libertação dos presos. "A violência estatal não deve ser a resposta aos protestos", apontou em sua conta no Twitter.
As autoridades também chamaram a depor Yeris Curbelo Aguilar, um jornalista local independente que reportou o ocorrido no sábado, informou o comunicador à AFP. Ele esclareceu que "cancelaram a convocação" porque estavam ocupados "com os presos", mas teme ser convocado quando a atenção midiática diminuir.
As manifestações, inexistentes até dois anos atrás em Cuba, tiveram um auge em 11 de julho de 2021, quando foram às ruas de cidades cubanas protestar. Quase 500 manifestantes foram condenados a até 25 anos de prisão, segundo as autoridades.
Em maio de 2020, voltaram as marchas isoladas contra os cortes de eletricidade e, em setembro, estas se estenderam até Havana, após a passagem do furacão Ian, que provocou um apagão generalizado de energia elétrica no país.
A.Parmentier--JdB