Journal De Bruxelles - Dono de jornal se declara preso político em julgamento polêmico na Guatemala

Dono de jornal se declara preso político em julgamento polêmico na Guatemala
Dono de jornal se declara preso político em julgamento polêmico na Guatemala / foto: Johan ORDONEZ - AFP

Dono de jornal se declara preso político em julgamento polêmico na Guatemala

O dono do jornal "El Periódico", que começou a ser julgado nesta terça-feira (2) por lavagem de dinheiro na Guatemala, afirmou que é um preso político.

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José Rubén Zamora, preso desde julho passado, é acusado pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro e chantagem, acusações que ele afirma serem uma retaliação a dezenas de publicações sobre corrupção no governo guatemalteco, um caso que gerou críticas internacionais e denúncias de ataques à liberdade de expressão.

"Sou um preso político e fui tratado como tal", disse Zamora no tribunal, presidido pela juíza Oly González. "Vamos lutar. Sou cético em relação aos resultados", confessou Zamora mais tarde à AFP, no encerramento da primeira audiência. O julgamento será retomado amanhã.

Segundo a acusação, Zamora está envolvido em uma suposta trama para lavar US$ 37,5 mil (R$ 187,5 mil), que seriam procedentes de uma chantagem a empresários para não publicarem informações contra ele.

"É totalmente falso que provas foram inventadas", afirmou o principal promotor do caso, Rafael Curruchiche, que anunciou que cerca de 30 testemunhas e peritos irão depor no julgamento, que pode durar semanas.

Sindicatos da imprensa e ONGs internacionais, no entanto, exigem que as acusações contra Zamora sejam levantadas, enquanto os Estados Unidos manifestaram preocupação com as tentativas "de criminalizar" o trabalho de jornalistas na Guatemala.

"Consideramos que o sistema de justiça da Guatemala se tornou o braço repressivo que busca asfixiar e estrangular aqueles que buscam dizer a verdade", declarou dias atrás a presidente da ONG Washington Office On Latin America (Wola), Carolina Jiménez Sandoval, após uma visita à Guatemala.

- Cruzada contra promotores -

Após seis horas de audiência, Zamora foi levado de volta à prisão de uma base militar na capital. O comunicador, 66, afirma que o processo contra ele foi forjado pelo presidente Alejandro Giammattei, e pela procuradora-geral, Consuelo Porras, afirmações rejeitadas pelo governo e pelo Ministério Público.

"O presidente (Giammattei) quer me condenar. Continuarei me declarando inocente, porque é o que sou. Este julgamento é um ataque à liberdade de expressão", disse Zamora à AFP. Ele declarou estar "sereno" e disposto a buscar a sua libertação em instâncias internacionais, se condenado.

O Código de Processo Penal da Guatemala determina para lavagem de dinheiro penas de seis a 20 anos de prisão incomutáveis.

Zamora foi preso em meio a uma onda de detenções de ex-promotores anticorrupção por ordem do Ministério Público da Guatemala, cujo chefe foi incluído por Washington desde 2021 em uma lista de pessoas envolvidas em atos de corrupção ou que atacam a democracia na América Central.

O Ministério Público diz ter como prova as escutas telefônicas e o dinheiro que Zamora teria entregado a um banqueiro, que está sendo processado em outro caso e posteriormente se tornou testemunha contra o dono do jornal.

Há duas semanas foram detidos dois advogados que defendiam o dono do El Periódico antes do julgamento, acusados pelo Ministério Público de apresentar provas falsas. Na quinta-feira o jornalista e empresário Juan Carlos Marroquín, primo de Zamora, foi detido pelo mesmo caso.

- Oito exilados -

Em fevereiro, um juiz ordenou a abertura de um segundo julgamento contra Zamora, por tentativa de frear uma investigação sobre lavagem de dinheiro em 2021. Além disso, o magistrado sugeriu a investigação de jornalistas e colunistas do jornal por obstrução da Justiça, o juiz que levou oito pessoas a deixarem o país, segundo Zamora.

"No segundo caso com outro juiz, temos oito pessoas no exílio, incluindo a diretora do El Periódico (Julia Corado), colunistas e meu filho mais novo", disse Zamora à AFP.

O anúncio do segundo julgamento de Zamora levou os Estados Unidos a expressarem preocupação.

G.Lenaerts --JdB