Ameaça nuclear norte-coreana persiste apesar de acordo Washington-Seul
O acordo entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul para reforçar a capacidade de dissuasão diante de Pyongyang irá desencorajar Seul de buscar armas nucleares, mas também destaca a quase ausência de formas viáveis de eliminar a ameaça representada pelo arsenal norte-coreano.
Os Estados Unidos e a comunidade internacional não conseguiram em anos fazer com que a Coreia do Norte renuncie às armas nucleares, um perigo persistente, que levou muitos na Coreia do Sul a acreditarem que também precisam de armas do mesmo tipo. Para evitar algo assim, Washington concordou, nesta quarta-feira (26), em aprofundar a cooperação com Seul em temas nucleares e na implantação regular de ativos estratégicos na Coreia do Sul.
Em visita oficial aos Estados Unidos, o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol reafirmou o compromisso de seu país com a não proliferação nuclear.
Como resultado do acordo conjunto, "a Coreia do Sul irá se envolver mais em conversas sobre a parte nuclear da dissuasão, não apenas sobre a dissuasão convencional", avaliou Naoko Aoki, cientista política da instituição global de pesquisa Rand Corporation. Mas "o entorno geopolítico e o plano de modernização militar em andamento da Coreia do Norte, entre outros assuntos, tornam improvável que a Coreia do Norte se sente à mesa de negociações tão cedo".
A Coreia do Norte desafiou anos de sanções para seguir trabalhando em seus programas nucleares e de mísseis proibidos, e não mostrou sinais de estar disposta a renunciar a armas que considera uma salvaguarda contra uma mudança de regime. Pyongyang realizou uma série recorde de lançamentos que desafiaram as sanções neste ano.
- Possível resposta -
Pesquisas mostram que a maioria dos sul-coreanos acreditam que o país deveria desenvolver seu próprio arsenal nuclear, uma escolha que Yoon havia insinuado que Seul poderia fazer.
O novo acordo "se trata, acima de tudo, de dar segurança à Coreia do Sul e mostrar a Seul que o guarda-chuva nuclear dos EUA é confiável", explicou Kelsey Hartigan, especialista em questões nucleares do centro de estudos CSIS, com sede em Washington.
"As perspectivas de um avanço na desnuclearização sempre foram escassas. A pergunta não é se a Coreia do Norte irá renunciar às suas armas nucleares, e sim se o Sul irá desenvolver suas próprias armas em resposta", concluiu Kelsey, para quem é pouco provável que os Estados Unidos se afastem, a curto prazo, da sua posição formal: a de buscar a desnuclearização completa da península coreana.
Frank Aum, especialista da Usip, instituição federal dos Estados Unidos que busca promover a resolução e prevenção de conflitos em todo o mundo, alertou para uma possível resposta norte-coreana ao novo acordo. "Se estamos mostrando poder neste momento, é muito provável que a Coreia do Norte volte e responda com sua própria demonstração de poder. Poderia ser um lançamento de satélite ou um sétimo teste nuclear."
"Então, a Coreia do Sul irá querer responder novamente e, em algum momento, iremos ficar sem armas nucleares para dar a Seul", concluiu Aum.
E.Carlier--JdB