Journal De Bruxelles - Taxa de câmbio será liberada 'com o tempo' na Argentina, diz presidente do BC

Taxa de câmbio será liberada 'com o tempo' na Argentina, diz presidente do BC
Taxa de câmbio será liberada 'com o tempo' na Argentina, diz presidente do BC / foto: Luis Robayo - AFP

Taxa de câmbio será liberada 'com o tempo' na Argentina, diz presidente do BC

A livre flutuação da taxa de câmbio na Argentina "ocorrerá com o tempo", sem uma data que gere "ansiedade" e "incerteza", afirmou, nesta quarta-feira (23), Santiago Bausili, presidente do Banco Central do país, durante um ato no FMI, em Washington.

Tamanho do texto:

Em uma sala lotada, Bausili explicou os desafios do programa de ajuste econômico do presidente ultraliberal Javier Milei.

"A Argentina tinha ficado sem opções" e o "banco central imprimia dinheiro constantemente por duas razões: para financiar o Tesouro e para pagar juros sobre seus próprios títulos", começou dizendo no Fundo Monetário Internacional.

Seria preciso tornar o peso mais atraente. Ao invés de optar pelo método tradicional, que é "aumentar os juros e dizer às pessoas para manter esta moeda, porque ao final do ciclo ficarão mais ricas" e receberão juros, "adotamos uma postura muito agressiva".

O Banco Central argentino levou "as taxas de juros a um terreno negativo em termos reais, o que era arriscado, mas confiamos no fato de que tínhamos controles de capital fortes e pensamos que a proposta de escassez seria mais atraente", explicou Bausili.

As taxas de juros negativas buscam que os investidores e as empresas invistam mais ao invés de acumular capital.

"Começamos desenhando o programa com uma suposição muito forte, que é não temos nenhuma credibilidade (...) Não importa quem esteja no cargo, quem desenhou o programa, quem está dizendo o que, zero credibilidade. E a credibilidade é uma ferramenta política extremamente poderosa", disse Bausili.

Sob o governo de Milei, a Argentina entrou em uma nova etapa do programa de ajuste.

"Nós a chamamos de fase três. É como o iPhone", brincou Bausili.

O país, cronicamente endividado, conta com uma ajuda para seu plano de estabilização econômica: já recebeu do FMI US$ 12 bilhões (R$ 68,2 bilhões, na cotação atual), a primeira parte de um empréstimo de US$ 20 bilhões (R$ 113,7 bilhões).

Se forem somados os recursos empenhados pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Argentina terá um total de 42 bilhões de dólares (R$ 238,8 bilhões).

Esta nova injeção de dinheiro deve permitir estabilizar o peso e continuar com a queda da inflação, de 211% ao ano no fim de 2023 para os atuais 59%.

Em troca, o governo suspendeu muitos controles cambiários em vigor desde 2019.

E introduziu um novo esquema de flutuação em bandas para a cotação do dólar, com um mínimo de 1.000 e um máximo de 1.400 pesos, cujos limites serão ampliados ao ritmo de 1% ao mês.

"Quando vai flutuar livremente? Vai acontecer com o tempo. Não há uma fase adicional para a livre cotação. Não há uma etapa posterior que gere ansiedade e que cause incerteza", prometeu Bausili. "Continuamos tendo restrições porque ainda existem desequilíbrios", acrescentou.

Porque "se você não tem credibilidade (...) só deveria dar um passo à frente quando estiver extremamente certo", concluiu na conferência com o diretor do FMI para a América Latina e o Caribe, Rodrigo Valdés, muito criticado por Milei.

O.Meyer--JdB