Generosidade com os deslocados toma conta das estradas do Sudão
Parados à beira da estrada, eles distribuem água e comida aos habitantes de Cartum, que se dirigem ao sul para fugir dos combates. Após três semanas de guerra, a lendária hospitalidade dos sudaneses continua inabalável.
No longo trecho de asfalto que liga Cartum às regiões do sul, o desfile de carros cheios de famílias assustadas, famintas e sedentas parece interminável. Mas ao longo do caminho, os moradores saem com copos e pratos nas mãos para tentar aliviar a dor.
A 100 quilômetros da capital, Abu Bakr Hussein grita aos motoristas: "A comida está pronta, desçam, não vamos atrasá-los."
"As pessoas foram embora e não tiveram tempo de preparar nada para a guerra", disse à AFP. "Então pegamos nossas reservas de alimentos e água e começamos a preparar refeições", continua.
Em 15 de abril, o último fim de semana do mês de jejum do Ramadã, o som de explosões e combates tomaram o coração da capital.
Desde então, o exército liderado pelo general Abdel Fattah al Burhane e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) do general Mohamed Hamdane Daglo executam bombardeios e trocam tiros através de prédios e casas regularmente atingidos por balas perdidas.
- "Velha tradição"-
Em Cartum "há saques" e "muitas pessoas dizem que os combatentes das FAR entraram em suas casas para comer", acrescenta Aly Verjee, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.
"O comando das FAR, implícita ou explicitamente, disse a seus homens que se organizassem e se alimentassem sem esperar pelo apoio logístico organizado", disse o especialista em Sudão à AFP.
Nos primeiros dias da guerra, durante o jejum, os habitantes do estado da Al Jazeera já se mobilizavam. Todos os anos, durante o Ramadã, voluntários obrigam motoristas e viajantes a quebrar o jejum com eles para perpetuar o que todos por lá chamam de "uma velha tradição".
Oferecer uma refeição aos viajantes durante este mês é considerado um ato sagrado que pode valer o paraíso, segundo o costume. Especialmente em um dos países mais quentes do mundo, onde os frequentes cortes de energia e água tornam ainda mais difícil lidar com os 40 graus.
Mas mesmo após o mês de jejum, o conflito leva os moradores a racionar alimentos.
"Quando vimos a situação, começamos a coletar doações dos moradores, compramos tudo o que precisávamos e cozinhamos", disse Hussein.
Após duas semanas de guerra, a ONG Norwegian Refugee Council (NRC) também informou que o preço dos alimentos no estado da Al Jazeera havia dobrado.
D.Verheyen--JdB