Procurador-geral da Espanha nega ter vazado informações contra oposição
O procurador-geral da Espanha, Álvaro García Ortiz, negou, nesta quarta-feira (29), perante um juiz do Supremo Tribunal, que tenha vazado informações contra o namorado de uma figura da oposição, afirmaram fontes jurídicas à AFP.
Em um dos casos que assombram o chefe de governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, García Ortiz, nomeado pelo Executivo, é suspeito de ter vazado documentos legais confidenciais sobre o companheiro da influente líder conservadora da região de Madri, Isabel Díaz Ayuso.
García Ortiz compareceu por cerca de uma hora e meia na sede do Supremo Tribunal em Madri e, segundo estas fontes judiciais, só respondeu ao seu advogado.
O juiz Ángel Hurtado suspeita que o procurador-geral, que foi nomeado em agosto de 2022 por proposta do governo Sánchez, esteja por trás do vazamento para a imprensa, em março de 2024, de um e-mail que mencionava um possível acordo judicial em um caso de fraude fiscal.
De acordo com a Promotoria, tratava-se de uma proposta de acordo feita pela defesa do empresário Alberto González Amador, namorado de Ayuso, presidente da região de Madri e figura do conservador Partido Popular (PP).
Em entrevista à televisão pública TVE nesta quarta-feira, o ministro da Justiça, Félix Bolaños, defendeu a honra do procurador, quem disse ser "uma pessoa íntegra que, insisto, se dedicou a dizer a verdade e se dedica a processar o crime".
- PP exige renúncia -
"O procurador-geral do Estado está sendo investigado por ter usado informações confidenciais contra a oposição ou contra um partido que o presidente do governo decidiu que deveria ser atacado", declarou à imprensa o porta-voz do PP, Borja Sémper.
Sémper disse que García Ortiz deveria ter renunciado e, assim, "preservado a dignidade da instituição, a credibilidade da instituição".
Nos elementos preliminares de sua investigação, o juiz considerou que "há uma base indiciária para presumir a participação relevante" do procurador-geral "nesse vazamento", explicou o tribunal em comunicado.
No centro de sua investigação está uma troca de e-mails entre García Ortiz e o advogado de González Amador sobre uma proposta de acordo de declaração de culpa.
González Amador, que denunciou o caso dos vazamentos aos tribunais, levando à abertura da investigação em outubro de 2024, é suspeito de fraudar as autoridades fiscais espanholas em 2020 e 2021. Sua empresa prestava serviços de saúde e viu suas receitas dispararem durante a pandemia de covid-19.
- Justiça politizada -
A convocação de García Ortiz não tem precedentes no Judiciário espanhol.
"Estou profundamente preocupado porque acredito que isso gera uma importante deterioração institucional", comentou o cientista político Pablo Simón na segunda-feira na TVE, afirmando que García Ortiz deveria ter renunciado.
O que esse caso transmite "para os cidadãos como um todo" é a existência de uma "justiça politizada", acrescentou.
Entrevistado em meados de outubro pela TVE, García Ortiz negou ter vazado as informações relativas ao caso González Amador, diretamente ou por meio de seu escritório.
Representante da ala mais dura do PP, Díaz Ayuso, que goza de grande popularidade, denunciou ter sido vítima de uma perseguição "selvagem" por parte do Estado e acusou a equipe de Pedro Sánchez de ter organizado os vazamentos com a ajuda do procurador-geral.
A.Martin--JdB