Journal De Bruxelles - MP colombiano reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN

MP colombiano reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN
MP colombiano reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN / foto: Daniel Muñoz - AFP/Arquivos

MP colombiano reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN

O Ministério Público da Colômbia anunciou, nesta quarta-feira (22), a reativação das ordens de prisão contra a cúpula da guerrilha ELN após um ataque sem precedentes na fronteira com a Venezuela, o qual deixou mais de 80 mortos e cerca de 32.000 deslocados.

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"A procuradora-geral da Nação, Luz Adriana Camargo Garzón, revogou os benefícios da suspensão das ordens de prisão que 31 representantes desse grupo armado tinham desde 2022 e 2023", incluindo os principais líderes rebeldes, 'Pablo Beltran', 'Gabino' e 'Antonio Garcia', segundo um comunicado.

Também estão incluídos membros da equipe de negociação do ELN (Exército de Libertação Nacional) nos diálogos de paz com o governo, que começaram em 2022, mas que estão suspensos desde a sexta-feira por decisão do presidente, Gustavo Petro.

As ordens de prisão entram em vigor a partir desta quarta-feira, acrescentou o boletim.

- "Descumprimento" -

Camargo justificou sua decisão com base "na prática de novos delitos por parte de integrantes do ELN", após a escalada de violência que desde a quinta-feira abala a região fronteiriça de Catatumbo, assolada por cultivos de drogas, onde os rebeldes travam uma luta sangrenta contra dissidentes das Farc e atacam a população civil.

O MP acredita que a investida da guerrilha constitui um "descumprimento das condições para a suspensão" das ordens judiciais contra a cúpula guerrilheira, um pedido que o governo havia feito como um gesto de boa vontade.

Em agosto de 2022, poucos dias após assumir o poder, o presidente Petro pediu ao Ministério Público que suspendesse as ordens de prisão contra 18 líderes do ELN, entre eles o principal negociador de paz, Pablo Beltrán.

Um segundo grupo de líderes, entre eles o comandante militar Antonio García, se beneficiou da mesma medida em 2023.

Desde então, os líderes rebeldes podiam circular livremente pelo país.

Pablo Beltrán chegou a comparecer a um evento público no final de 2023 em Bogotá, cidade que não visitava havia três décadas, vivendo na clandestinidade.

A retomada das negociações permanece uma incógnita. Petro suspendeu os diálogos, acusando o ELN de cometer "crimes de guerra" em Catatumbo, e na segunda-feira anunciou que declararia "estado de comoção interna" diante da crescente onda de violência.

- "Controle brutal" -

O enviado especial da ONU para a Colômbia disse, nesta quarta-feira, perante o Conselho de Segurança, em Nova York, que "o vácuo da presença estatal" em áreas remotas facilita o "controle territorial e social" da população civil no país, instando o governo colombiano a implementar "integralmente" os pontos pactuados no histórico acordo de paz com a extinta guerrilha das Farc em 2016, que inclui aspectos estruturais sobre pobreza rural e exclusão.

"Não devemos esmorecer, não devemos renunciar à paz", disse à imprensa o chanceler colombiano, Luis Gilberto Murillo, falando da sede da ONU, após a reunião do Conselho. O governo, acrescentou, "fará tudo o que for necessário para que os responsáveis possam ser apresentados à justiça".

Em um discurso breve na terça-feira, Petro considerou que a situação em Catatumbo é "um fracasso da nação". Desde que chegou ao poder, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia aposta em uma saída negociada para o conflito com guerrilhas, gangues e narcotraficantes.

Mas a violência pôs em xeque sua aposta de conseguir o desarmamento de todos os grupos armados da Colômbia, um plano que seu governo batizou de "paz total".

Também nesta quarta, a diretora para as Américas da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), Juanita Goebertus, assegurou, em uma declaração enviada à imprensa, que "a crise de Catatumbo deveria ser um chamado de atenção para a administração de Petro", cuja proposta de paz total, aliada à "falta de políticas eficazes de segurança e justiça, permitiram aos grupos armados expandir sua presença e seu controle brutal" em comunidades rurais ao longo de todo o país.

R.Michel--JdB