Presidente eleito do Panamá propõe 'diálogo direto' e 'sem arbitragem' a mineradora canadense
O presidente eleito do Panamá, José Raúl Mulino, propôs, nesta quinta-feira (9), um diálogo direto, "com calma", à mineradora canadense First Quantum Minerals, sobre a possível reabertura de uma mina no Caribe panamenho.
A empresa recorreu à arbitragem internacional para pedir uma indenização de 20 bilhões de dólares (R$ 103 bilhões) pelo fechamento da mina, acusada de prejudicar o meio ambiente, após os protestos que paralisaram parcialmente o país durante mais de um mês no fim de 2023.
“Não esqueçam que o governo é o dono dessa concessão (...), com base nisso podemos conversar para abrir (ou) fechar definitivamente” a mina Cobre Panamá, disse Mulino em entrevista à rádio ArCa Media En Directo.
No entanto, “não vou aceitar falar de uma mina com estas arbitragens ativas”, acrescentou o presidente eleito, que deve tomar posse no dia 1؟ de julho.
A mineradora ainda não se manifestou sobre as declarações de Mulino, apesar de um pedido da AFP.
As palavras de Mulino não agradaram ao ambientalista Guido Berguido, que indicou que o próximo presidente não pode negociar a reabertura da mina, uma vez que existe uma “lei de moratória mineira por tempo indeterminado” aprovada pelo Congresso em 3 de novembro.
“Para mim, (Mulino) está sendo político, tentando acalmar o clima e fazer com que as ações da First Quantum subam, dando a ela esperança de alguma coisa”, disse Berguido, líder da ONG Bosques Panamá Adopta, à AFP. Mulino venceu as eleições de domingo impulsionado pela popularidade do ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014), a quem foi concedido asilo durante três meses na embaixada da Nicarágua para evitar a prisão depois de ter sido condenado por lavagem de dinheiro.
- Crescimento menor -
O fechamento da mina despertou dúvidas sobre a segurança para o investimento estrangeiro no Panamá e pressionou a economia do país, que cresceu 7,3% em 2023, uma das taxas mais elevadas da América Latina, mas cairá para um terço este ano, de acordo com os especialistas.
O país também enfrenta uma seca que ameaça as receitas do Canal do Panamá, enquanto o Fundo de Segurança Social está a caminho de ficar sem dinheiro em 2025 para pagar pensões a mais de 310 mil panamenhos, segundo economistas.
Em março, a agência financeira Fitch baixou o rating do Panamá (de BBB para BB+) devido ao aumento da dívida pública devido a um “grande déficit fiscal” (7,3% em 2023) e ao “contexto social tenso”, decisão que aumenta os juros do crédito ao país.
Diante destas condições, os economistas estimam que Mulino terá que fazer um “ajuste fiscal” que inclua um aumento de impostos, o que afetaria especialmente a classe média panamenha, já atingida pelas elevadas taxas de juro dos empréstimos hipotecários e pelos elevados preços da gasolina.
C.Bertrand--JdB